Marcas na alma

13/04/2018 às 20:46.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:20

 Rios são poluídos, peixes são mortos, o clima fica comprometido, a economia é afetada. Não há dúvida sobre os danos materiais e ecológicos causados pelo homem ao planeta, mas uma questão costuma ser minimizada no calor das discussões: a dor que insiste em povoar as lembranças de quem teve a própria história mudada por um crime ou desastre ambiental. 

Estudo inédito em Minas contribui para a mudança desse olhar e pode contribuir para ajudar na assistência à saúde das pessoas, sobretudo as crianças, que sobreviveram ao rompimento da Barragem de Fundão, há dois anos, em Mariana.

Realizado pela Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com a Cáritas, o estudo revela altos índices de vulnerabilidade da saúde mental dos atingidos pelo acidente que destruiu distritos. Ainda segundo a pesquisa, 83% dos menores de 18 anos apresentaram sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, como insônia, irritabilidade, pesadelos recorrentes e pensamentos em função do desastre. 

Os números mostram que a taxa de depressão entre todos os participantes foi de 29%, cinco vezes maior do que a registrada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a população brasileira em 2015, ano da tragédia. Prova de que as cicatrizes da alma podem demorar anos para serem apagadas. 

Em dois anos, as vítimas ganharam casas, novas escolas, nova rotina, mas uma dor insiste em corroer-lhe a alma. E precisa ser tratada. A iniciativa de realização do estudo merece ser destacada para que um novo olhar e atenção sejam dados às famílias que tiveram da noite para o dia parte da vida levada pela lama. 
Seria urgente agora atenção redobrada às crianças e adolescentes, mais frágeis e vulneráveis aos traumas provocados por tamanha tragédia. Eles precisam seguir em frente.

Além de cobrar o ressarcimento dos prejuízos materiais, seria importante que os movimentos em defesa das vítimas cobrassem uma apoio psicológico permanente as esses jovens e crianças na tentativa de que sigam suas vidas com menos traumas. Que a pesquisa seja usada para ajudar a construir um futuro melhor para meninos e meninas de Mariana. Chega de sofrimento.

  

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