À espera dos milagres

30/05/2017 às 11:11.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:47

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  

Não tem nenhuma outra torcida que se apegue mais às crenças, à fé cega diante de um sinal qualquer que nos mostre o caminho de mais uma conquista. O atleticano é um religioso, que segue sem duvidar a liturgia do futebol. Dentro de campo, o time pode viver altos e baixos, mas nada disso parece importar quando há uma série de coincidências mágicas que nos leva ao ano de 2013, com milagres prestes a se repetirem.

 Temos um pouco daquele personagem do filme “O Código Da Vinci”, o professor de simbologia vivido por Tom Hanks, decifrando códigos divinos até termos a certeza de que o buscamos está próximo. E as semelhanças são tantas que, posso dizer outra vez, eu acredito! Nem mesmo o acaso seria ardiloso a esse ponto, dando-se ao trabalho de criar essas associações todas com tal perfeição.

 Lembrar que fomos campeões em cima do maior rival, em 2013, não é nada demais, já que esses clubes protagonizaram boa parte das finais do Campeonato Mineiro, mas repetir uma derrota para a Caldense, pelo mesmo placar (2 a 1), com um time de reservas, é muito para a razão atleticana. Como se não bastasse, um jogador vem da Alemanha para reforçar o elenco nas oitavas-de-final, assim como aconteceu há quatro anos.

 Nunca vi Roger Bernardo jogar, mas sou o primeiro a defender que ele tem essa missão celestial de ajudar a levar o time à finalíssima da Libertadores. Não por acaso, o nome Roger tem origens germânicas, entendido como “lança da glória”. Josué, que se juntou ao grupo atleticano em 2013, saído do Wolfsburg, tem significado igualmente emblemático: “Deus é a salvação!”. O livro de Josué, por sinal, é o primeiro rolo dos “Livros dos Profetas”.

 Profeta já temos um, Elias, que vem abrindo caminho para os gols do Galo, merecendo um altar na galeria dos craques. Confesso que a única vez que acendi uma vela foi quando o italiano Paolo Rossi marcou três gols no Brasil, na Copa do Mundo de 1982. “Secar” é o mais próximo de rezar, uma oração silenciosa que todo atleticano realizou nas últimas semanas, vendo o impossível acontecer: o River Plate perder em casa.

 Diferentemente de 2013, quando só precisávamos da mágica de Ronaldinho Gaúcho, “secar” foi fundamental para o Atlético chegar à liderança geral. Não por acaso, foram cinco clubes empatados com 13 pontos. Mas 13 por 13, sou mais o nosso, 13 de origem, ainda mais sendo o ano do Galo no horóscopo chinês. Só faltava a data do sorteio dos confrontos de oitavas ser no dia 13 de junho. Mas, por capricho, marcaram 14.

 Mesmo preocupado com a derrota para o Paraná, na estreia na Copa do Brasil, dormi com o sono dos deuses, vendo os potenciais concorrentes à liderança tropeçarem, satisfeito por, de alguma forma, ajudar o time. Secar, como sabemos, é coisa de torcedor. É indolor e, quando acontece o resultado que esperamos, a sensação é de missão cumprida. Lembrei-me do cronista Xico Sá, um secador nato, capaz de secar até mesmo em jogos de várzea.

 Apesar de o Atlético ter sido eliminado da Copa do Brasil no ano da conquista da Libertadores, é bom lembra que os clubes presentes na competição sul-americana só entravam a partir do segundo semestre. Como agora o calendário foi mudado, quem sabe o torneio não servirá de aperitivo para o mata-mata. Afinal, já começamos perdendo fora e a necessidade de ganhar em casa para se classificar fazia parte do repertório de milagres.

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