Cazares em Mercúrio retrógrado

17/01/2017 às 14:54.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:27
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

Bruno Cantini/Atlético / N/A

 Em 2016, o equatoriano Cazares teve atuação parecida com a minha TV, que agora liga e desliga repentinamente, sem aviso prévio. Na semana passada, alta madrugada, salto da cama assustado com as vozes que vinham da sala. Pé ante pé, fui ver quem estava bisbilhotando a minha casa e cai na gargalhada, aliviado, ao me deparar com Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone num diálogo de “Rota de Fuga”.

De manhã, Woody Allen e Martin Scorsese. Depois um filme que me deixou preocupado, já que meus quatro gatos ficaram paradinhos diante do aparelho, contorcendo a cabeça para a esquerda. Imaginei que poderia ser uma fita de terror, com Félix, Mia, Brisa e Zorro em contato imediato de terceiro grau com algum ser de outro mundo, assim como em “Poltergeist”, mas era uma comédia besteirol que não me lembro o nome.

Tentava descobrir a razão daquela reação felina, mas a TV não me deu tempo, desligando-se do nada. Até que resolvi desligar o fio na tomada. Não é o caso de Cazares, que ainda pode exibir uma temporada de maior regularidade, sem “ligar” e “desligar” constantemente. Enquanto vasculho a internet e encontro milhares (não é exagero) de consumidores reclamando da mesma coisa, lembro das jogadas geniais do meia atleticano.

Por sinal, a última vez que vi um jogo do Galo foi na TV rebelde, quando perdemos o título da Copa do Brasil, contra o Grêmio, e Cazares marcou o chamado “gol que Pelé não fez”, do meio da rua, praticamente nos obrigando a dar uma segunda chance a ele após um ano de altos e baixos, entre uma intimidade com a bola que não víamos desde Ronaldinho Gaúcho e tantas bolas fora, com Otero tomando-lhe a posição.

A descarga do banheiro também resolveu não funcionar, o que gera uma situação ainda mais desagradável do que ficar horas no telefone com um atendente da marca sul-coreana. Comecei a notar que, com a diferença de alguns dias, outras coisas passaram a dar pane, como o notebook e o carro. A Beth me explica que a culpa é de um Mercúrio retrógrado, em que, por 20 dias, três vezes por ano, nosso cotidiano é alterado.

Não sei o que minha vida tem a ver com um planeta inabitável e quente que está a milhões de quilômetros de distância, mas os relatos comprovam que há uma espécie de interferência gerada por essa “retrogradação” – para a ciência, uma ilusão de ótica provocada pelos movimentos diferentes de translação dos planetas, fazendo-nos crer que aquele que estamos observando está andando para trás.

Acabamos de sair de um deles, encerrado no dia 8 de janeiro, mas dizem que os efeitos de “frenagem” de nossas energias pode perdurar por mais 20 dias. A recomendação, segundo o que a Beth me explicou, é não tomar nenhuma decisão importante por agora. O que talvez justifique o fato de o Galo não ter feito ainda nenhuma comunicação sobre contratações além daquelas anunciadas no ano passado.

A retrogradação de Mercúrio tem lá suas vantagens. Uma delas é se valer desse momento para desfazer qualquer mal-entendido ou rever atitudes. No meu caso, comprar outra marca de TV. No caso de Cazares, jogar tudo o que sabe nos 12 meses de 2017.

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