Fim do "Eu Acredito!"

22/05/2016 às 09:42.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:33

A torcida gritou, antes de a partida começar, quando os jogadores entraram em campo, e nos minutos finais, imaginando que o “Eu acredito!” em uníssono acionasse um mecanismo extraordinário qualquer, com o Atlético sendo novamente ungido e jogando por mágica, como nos tempos da Copa Libertadores de 2013 e da Copa do Brasil de 2014.

Parece que o mantra ganhou um efeito inverso, como se os próprios jogadores esperassem uma ação divina que empurrasse a bola para dentro do gol. Deixam uns para os outros esse poder de decisão que aliviará o time no placar. Foi assim contra o São Paulo e também diante do América, jogos que tiraram do Galo a possibilidade de títulos nesse primeiro semestre.

A permanência de Léo Silva no ataque, nos derradeiros momentos das quartas de final contra o São Paulo, fez todos nós acreditarmos, lá no íntimo, que uma repetição da cabeçada salvadora do zagueiro, na decisão da Libertadores diante do Olimpia, era questão de tempo. Os meus olhos se fixaram no camisa 3, desejando ardorosamente que a bola fosse lançada no ar.

E quem sabe, naquela última falta, Lucas Pratto tivesse a função de predestinado, acertando o gol numa cobrança que raramente faz nos jogos. Seria o grande herói de uma possível conquista, talvez o que Victor representou em 2013, após defender o pênalti de Riascos contra os mexicanos do Tijuano. Mas a realidade dura e crua – e não a epopeia – nos fez acordar.

O “Eu acredito!” se tornou, de certa maneira, um fardo, uma súplica incapaz de ser atendida porque a equipe de hoje não é a mesma de 2013 e 2014, ainda que o grupo conte com alguns remanescentes dessa que é uma das páginas mais gloriosas do clube mineiro – Victor, Marcos Rocha, Léo Silva, Leandro Donizete, Dátolo e Luan. 

O mantra pode ser o mesmo, mas o comportamento da Massa parece ter mudado. Com exceção do 2 a 1 contra o São Paulo, a participação não teve aquele ingrediente apaixonante de três anos atrás. Não foram poucas as vezes em que os próprios jogadores pediam à torcida um empurrão extra para estimular o time a ir para cima e fazer o adversário temer.

Talvez seja a hora dos “barra-bravas”, torcidas muito comuns na Argentina que não param de cantar os hinos nas arquibancadas, até quando a equipe está perdendo ou no instante em que levou um gol. São sinônimo de alma e garra, dois elementos que foram perdendo o seu espaço no Atlético de 2016, sucumbindo a um jogo burocrático, resumido a chuveirinhos na área.

A troca de comando, com Aguirre deixando o clube, deveria representar também uma mudança de postura da torcida, a começar do próximo jogo no Independência. É hora de abandonar completamente o “Eu acredito!”. É hora de cansar de gritar, pular e mexer com os braços. É hora de pedir raça ao time todo e cantar o hino a plenos pulmões.

Acreditar é um verbo passivo, de quem espera algo de alguém. Portanto, abram espaço para os velhos atleticanos, fervorosos, incansáveis, que fazem qualquer estádio tremer. E que voltem a ser respeitados pelos jogadores. Que Marcelo Oliveira, atleticano, retome a força que o clube tem, embalando o grupo em direção a novas vitórias. Estamos juntos, para o der e vier.

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