Fred 'Pac Man'

17/04/2017 às 19:25.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:10

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

 Na caixa postal, meu primo deixa uma pergunta estranha, sobre o que deveria fazer após a namorada saber que ele abriu a porta para o gato fugir. Márcio não me ligava há quatro, cinco meses, e da última vez foi para me vender uma rifa. Ainda na sexta-feira, meu filho Breno queria minha opinião sincera sobre a atual namorada dele. Foi a primeira vez que me indagou sobre algo parecido, apesar de ser notório o meu desinteresse pela garota, que solta uma risada a cada duas palavras. Só fui entender o que estava acontecendo quando abri meu facebook e os e-mails. Muita gente me parabenizando pela previsão de que a Fred passaria uma borracha em sua expulsão contra o Cruzeiro fazendo o que sabe: muitos gols. Senti-me como a mãe Diná. A verdade é que não poderia imaginar que Fred daria uma resposta tão rápida, na primeira partida que disputou após levar o cartão vermelho. E rápido em tempo de jogo também: quatro gols em pouco mais de 20 minutos, na vitória sobre o Sport Boys. Parecia uma máquina impiedosa de gols, descarregando toda a sua raiva por ter prejudicado o time no clássico. Ele me fez lembrar desses filmes de guerra em que o soldado dispara contra uma floresta até o último cartucho, vendo tudo desaparecer à sua frente.  Esse é o retrato de Fred em 2017. O atacante não pára, como se sua única missão fosse estufar as redes ininterruptamente, como um Pac Man guloso. Mais do que a obstinação em vencer, demonstrou um grande espírito de grupo, com um bom soldado deve ter. E não precisa ser bidu para enxergar a boa fase do camisa 9, até mesmo quando erra. Fred foi de vilão à herói de uma maneira formidável. Como um Forrest Gump que retorna várias vezes à selva do Vietnã para buscar seus companheiros feridos. A analogia é perfeita. Diante de um time apagado, de moral baixa, com o talismã Menino Maluquinho fora de combate devido a mais uma contusão, Fred abriu o caminho em meio aos destroços e “trouxe os soldados para casa”, em segurança. E é outra guerra que será travada amanhã, em Assunção. O Libertad tem muitas lutas em sua história. O clube paraguaio, por sinal, foi criado em 1905 por estudantes participantes de uma revolução que originou o Partido Liberal, em oposição ao Partido Colorado. Gostaria de ver um “terremoto” em Assunção, com Fred novamente provocando estragos, o que ainda não aconteceu em território estrangeiro. Ele está a um gol do artilheiro da competição, Chumacero, do The Strongest, um ex-volante que agora atua como armador. Por sinal, o boliviano é um velho conhecido do Galo – ele estava no time de La Paz quando foram derrotados por um duplo 2 a 1, na fase de grupos da Libertadores de 2013. Destaque também do elenco atual do The Strongest, Pablo Escobar era outro nome em campo. Com o jogo acontecendo na antevéspera do dia de Tiradentes, “libertad” não é só coisa dos paraguaios. Só não podemos continuar igual aos inconfidentes, cheios de boas ideias, mas falhos na hora de pôr a revolta em prática. Perder a cabeça, Fred já o fez contra o arquirrival. A revolta, por enquanto, é dos torcedores, com aquilo que Roger Machado vem chamando de “jogo de tempos distintos”. Não é preciso ser mãe Diná para prever que, na próxima derrota, esse problema temporal será usado mais uma vez como justificativa.

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