Fuga para a vitória

09/08/2017 às 14:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:00
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

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Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  

O momento do Atlético me faz pensar sobre os significados de um triunfo hoje sobre o Jorge Wilstermann. É como um respiro, um desafogo. Não é a mesma sensação de quatro anos atrás, quando Ronaldinho Gaúcho batia no braço e exclamava “faltam tantos (jogos)!”, exibindo uma confiança que praticamente inexiste entre os atuais jogadores do Galo.

 Após Robinho ser mais um a perder um pênalti – em tese, o gol mais fácil de uma partida -, diante do Grêmio, não há dúvidas de que a parte psicológica já pesa sobremaneira sobre o grupo. É como os 300 mil soldados acuados numa praia ao norte da França, abatidos e esperando sair o mais rápido possível do palco da Segunda Guerra, mostrados no filme “Dunkirk”.

 São quase duas horas de desespero e tentativa de fuga, com milhares de homens mortos como moscas pelos alemães. Nos dez minutos finais, porém, a narrativa mostra um outro ângulo sobre o que teria sido a vergonhosa retirada em massa em barquinhos de civis, chamados às pressas para atravessar o Canal da Mancha e salvar o máximo de soldados.

 Na volta para casa, os soldados cabisbaixos foram recebidos com festa pela população. A vitória, nesse caso, não foi querer medir forças de igual para igual com os inimigos, promovendo uma grande carnificina. O mais importante foi reconhecer o erro (menosprezar a potência militar da Alemanha) e reagrupar todos para estabelecer uma nova estratégia.

 O jogo de hoje não será muito diferente, como a etapa de uma longa guerra. O momento de dor e vergonha já passou, por mais que ainda persista aquele sentimento de fragilidade. Não é simplesmente pensar que, derrotando o Wilstermann, haverá uma pedreira à frente, como o River Plate, como se só adiássemos a eliminação da Libertadores.

 Não é também se agarrar à próxima temporada, como se tirar um ou outro jogador resolvesse tudo. Uma vitória hoje, diante de mais de 30 mil espectadores, pode representar uma virada importante no “mapa da guerra” de 2017, ainda longe de estar perdida. No lugar de fugirmos, deslocando nosso pensamento para o futuro, muito há para lutar e defender.

 Falta nos jogadores algo como o que foi mostrado pelo piloto inglês do filme, que, mesmo com pouco combustível e precisando voltar para a base, persegue um caça alemão até restar a última gota. Para ele, não importa o que acontecerá depois. A bravura está no gesto. O resultado é uma consequência e depende do ponto de vista.

 Como nos mostra “Dunkirk”, o avanço inimigo, nos obrigando a recuar e perder muitos soldados, pode ser o início de uma resposta mais eloquente. E quem conhece a história do Galo, sabe que todas as conquistas foram construídas com muito sofrimento. Só temos que saber dar valor a elas, tirando a coragem necessária para reagir.

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