Galo da madrugada

19/08/2016 às 22:18.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:27

Com a experiência de quem convive comigo há 20 anos, meu filho Breno foi taxativo: eu sou o Leandro Donizete! Isso já tinha ficado claro para ele na partida contra a Ponte Preta, mas a certeza mesmo veio na vitória de 1 a 0 sobre o então líder Palmeiras, fora de casa.

Imaginei que era mais uma dessas brincadeiras de facebook, em que um pequeno questionário traça semelhanças com personagens de filmes e séries e até políticos. Quando ele disse que não, aí lembrei dos meus tempos de jogador. Era realmente o xerifão na defesa.

Se a bola vinha perigosa, não pensava duas vezes antes de mandá-la para longe, para o mato, como diziam. Entrava como um “touro” nos adversários, exibindo uma fita invisível de “circulação proibida” na faixa de campo que eu protegia. 

E, lembro-me bem, gostava de me aventurar no ataque, chegando de surpresa, pegando um rebote e chutando a gol. Assim como o Donizete. Mas não era exatamente de minhas habilidades futebolísticas que o Breno estava se referindo. 

O que chamou a atenção dele é o fato de eu e Donizete termos o nosso melhor rendimento na parte da manhã. Como o jogo desse domingo, contra o xará paranaense, será mais uma vez às 11h, meu filho espera mais um desempenho nota 10 do volante.

Costumo estar no meu auge logo cedo. É quando vem as melhores ideias. Minha disposição se redobra. O humor é rápido, encadeando uma piada atrás de outra e deixando aturdidos os sonolentos, os boêmios que ainda bocejam no final da manhã.

No futebol não deve ser diferente. A culpa é do cortisol, que está a toda nas primeiras horas do dia, lançado no sangue pelas supra-renais. A glicose se espalha no cérebro, tira da reserva os lipídeos e as proteínas e aumenta a tensão arterial e a força muscular.

Chamado de “guerreiro da manhã”, o cortisol é de extrema importância para o funcionamento perfeito do nosso corpo. Seu papel é controlar o biorritmo, reduzir as inflamações e estimular a nossa imunidade, de acordo com os manuais médicos.

É o cortisol o grande responsável, tenho certeza, pelo estilo “triplo-duplo” de Donizete. É um termo usado no basquete para exaltar o jogador que atinge o número de dois dígitos em três fundamentos, o que é muito raro acontecer em quadra.

O atleta teria que ser eficiente tanto no ataque (pontos marcados) como na defesa (tocos) e na participação das jogadas (rebotes e assistências). No futebol, os esquemas mais modernos obrigam os atacantes a voltarem e os defensores a ajudarem na parte ofensiva. 

Não quero dizer que Donizete se tornará um novo Oscar Robertson, que conseguiu acumular 181 triplos-duplos na carreira, mas seus gols saídos em partidas em que também marca e arma com eficiência revelam um verdadeiro “Galo da Madrugada”.

Curiosamente, o apelido de Donizete é general, oficial que tem quatro estrelas em seu distintivo. Na história do basquete, apenas quatro jogadores conseguiram o “quadruple-double”: Nate Thurmond, Alvin Robertson, Hakeem Olajuwon e David Robinson.

Com tanto quatro assim, os numerólogos adorariam saber que o volante tem 34 anos e que carrega na camisa o oito ( 2x 4). No Atlético desde 2012, fez exatamente quatro gols até hoje. Mas se continuar com esse rendimento pela manhã, logo não faltarão estrelas em seu uniforme.

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