Galo que acompanha pato...

16/11/2017 às 17:47.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:44
 (Bruno Cantini/divulgação)

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Bruno Cantini/divulgação / N/A

  

Uma das personagens do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” testa um pretendente da amiga, pedindo para ele completar certos provérbios. A garota explica que é um sinal de bom caráter e preparo para a vida. De fato, há milhares deles que podem ser usados no nosso dia a dia, a maioria de origem anônima, mas já bastante inseridos na cultura popular.

Após o empate do Atlético contra o Vasco, me peguei ouvindo as entrevistas para arrancar algum provérbio da boca dos jogadores. Nada. Nem um “de grão em grão a galinha enche o papo”, como um indicativo de que um pontinho conquistado aqui e outro ali ainda deixa o Galo vivo na corrida por uma vaga na Copa Libertadores, faltando três rodadas.

Ninguém disse com essas letras, mas a análise dos jogadores poderia se encaixar em algo como “falar é fácil, fazer que é difícil”, sobre a missão de vencer todos os últimos jogos, em especial o contra o Vasco, concorrente direto no G-9. Quem tem visto as partidas do alvinegro está mais para dizer que “uma andorinha só não faz verão”, em relação ao desempenho.

Victor foi uma das exceções, fechando o gol em São Januário. Santos e milagreiros se entendem. São Januário, para quem não sabe, foi jogado numa arena de leões, pelo imperador Diocleciano. Na hora H, os animais ficaram mansinhos, lambendo os pés dele. Depois de decapitado, passou a ser venerado por aqueles que queriam se ver livre da peste e do Vesúvio.

Vesúvio é um vulcão italiano que sempre entrava em erupção. No Brasil não corremos o risco de ter nossas casas encobertas por um mar de lama quente. A lama aqui é de outra origem. Já peste, tem. Para muitos atleticanos devotos, ficar de fora da Libertadores é uma espécie de maldição, como uma daquelas pragas enviadas ao Egito, fazendo de nós um grupo de lazarentos.

E não adianta rogar a São Victor, já que os provérbios dizem que “santo de casa não faz milagre”. Olho para a minha filha e lembro que, desde que ela passou a acompanhar o Atlético, nunca viu a equipe fora da competição continental. Transformou-se em algo natural para ela, principalmente ao ouvir planos de viagens internacionais que nunca se efetivaram.

Julia foi testemunha do meu desespero em Carrancas, quando aceitei ir para um passeio ecológico familiar, justamente no dia que o Galo recebia o Tijuana no Horto. No lugar, não havia TV e rádio praticamente não pegava, com o sinal não conseguindo transpor as montanhas. O celular funcionava e, no lugar do Caixa, quem narrou os derradeiros momentos do jogo foi o meu pai.

“Se cair, do chão não passa”, relativiza a minha esposa, tentando acabar com a tempestade feita em copo d’água, segundo ela. “Nada como um dia depois do outro”, solta mais um provérbio, como se encarnasse Vivien Leigh em “E o Vento Levou...”, naquela cena em que diz “Afinal, amanhã é um novo dia!”. Amanhã que representaria nada menos que 365 dias até uma nova chance.

É bom lembrar que “galo onde canta, janta!”, como gostava de falar minha avó sempre que alguém chegava atrasado às refeições e encontrava panela vazia. Por isso que, contra o Coritiba, fazendo o dever de casa direitinho, o Galo não irá acompanhar pato. Do contrário, você sabe, morrerá afogado.

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