Los tres gringos

01/10/2016 às 08:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:03

Até meu amigo Sinfrônio, figurinha marcada em qualquer manifestação sobre os perigos de entregar o pré-sal e a Amazônia para o estrangeiro, já vê com bons olhos a completa desnacionalização de parte vital da equipe atleticana – a armação, agora comandada por um equatoriano, um venezuelano e um argentino.

Nunca fui um ferrenho defensor da globalização, da abertura total ao capital internacional, mas confesso que o meio alvinegro está em boas mãos. Para um setor que teve Ronaldinho Gaúcho, 100% made in Brazil, que levou o time a inédita conquista da Libertadores, parecia impossível imaginar um substituto de outra procedência.

O amplo domínio da língua espanhola no meio, no melhor sentido da palavra, é como se Portugal e Espanha tivessem assinado um novo Tratado de Tordesilhas, deixando as descobertas espanholas para o lado leste do Brasil, incluindo aí Minas Gerais, anulando toda a influência portuguesa no território.

A erradicação portuguesa começou com a saída de Guilherme, na metade de 2015, e de Giovanni Augusto, que trocou o Galo pelo Corinthians no início do ano. Dona da posição, a dupla saiu pelas portas do fundo, com traços de insatisfação. Guilherme foi à Turquia, antes de também desembarcar no Timão.

Em outros tempos, eu diria que foi uma conspiração, para desestabilizar o poderio atleticano. Agora vejo como um negócio vantajoso à equipe mineira, que trouxe dois jogadores de seleção jovens e diferenciados, capazes de lances inesperados e belos num pequeno espaço do gramado e em alguns segundos.

No lugar de improvisar Robinho ou Luan, ganhamos dois armadores natos, com uma visão de jogo impressionante, ávidos por botar os companheiros na cara do gol, quando não são eles mesmos a arriscarem um chute certeiro. Cazares mostrou seu talento desde o momento que chegou, como amor à primeira vista.

Seguidas contusões, porém, tiraram essa joia equatoriana de campo, obrigando o Atlético a ir ao mercado novamente para contratar o venezuelano Otero. O baixinho teve dificuldades de adaptação, mas suas últimas partidas exibiram um meia aguerrido, incansável e generoso com seus colegas de ataque.

Se dois já não fossem bastante, o argentino Dátolo fez jus ao seu primeiro nome (Jesús) e “ressuscitou” após meses entregue ao Departamento Médico e com problemas pessoais. Em duas oportunidades, contra Ponte Preta e Internacional, o camisa 10 foi determinante, revivendo o Dátolo de 2014.

Hoje, no futebol brasileiro, não há um clube com três armadores dessa qualidade. É isso que poderá fazer diferença para o Atlético nessa reta final, enquanto disputa o título do Brasileiro e da Copa do Brasil. Especialmente se o trio gringo continuar jogando com a mesma inspiração de agora.

A palavra gringo, curiosamente, vem do espanhol, griego, referência à expressão “isso é grego para mim”. Confusão que, espero eu, seja uma constante entre os zagueiros e volantes adversários, sem compreenderem até onde pode chegar as virtudes desses jogadores que já fazem história no Atlético.

Serão lembrados como Los Tres Gringos, nomes que, no ano de 2016, transformaram aquela terra sem lei chamada meio-campo no mais caro e fértil metro quadrado de todas as bandas do Velho Futebol Brasileiro, tão carente de heróis. A diferença é que a conquista se dá de oeste para leste e não o contrário.

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