Marcelo Oliveira, o reformista

28/05/2016 às 08:50.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:38

Marcelo Oliveira foi ovacionado pelos torcedores, quando se dirigia ao banco de reservas. Independentemente do resultado indigesto (3 a 0 para o Grêmio, na sua estreia no estádio do Horto), não há dúvidas que o novo técnico atleticano tem, com o apoio irrestrito da Massa, a chance de promover uma mudança de filosofia no time, que ainda parece apostar num milagre que virá dos céus para ajudar nos momentos mais críticos.

É hora de voltar a sofrer, no sentido mais físico da palavra. Com muito trabalho técnico e tático e concentração total, por parte da equipe. E estímulos incessantes vindos da torcida, a ponto de doer a garganta. Não adianta esperar, como ficou provado contra os gaúchos, que o simples fato de jogar em casa irá fazer muita diferença. Não adianta esperar que Victor irá defender todos os pênaltis, porque ele é “santo” e assim deve ser.

O sofrimento emocional não precisa ser algo inevitável. Ou não opcional, como já destacou o nosso número 1. Não precisamos passar por uma prova de expiação para sermos abençoados no último instante. É esse aspecto que Marcelo, o reformista, tem que trabalhar. O Atlético pode, sim, jogar bonito, ser eficiente na maior parte do tempo, ganhar quase todas as partidas e levantar uma taça por antecipação, como o treinador fez no arquirrival.

Marcelo tem a oportunidade de empurrar o Atlético para longe da Idade Média, quando o conhecimento não era acessível a todos e a religião influenciava as formas de comportamento. As teorias do conhecimento daquela época não permitiam que as pessoas tomassem contato com a realidade como ela é. Até hoje, por exemplo, ninguém sabe explicar o que se passava na cabeça de Aguirre, ao fazer de Patric atacante, em insistir em Uilson ou pôr Cazares fora de jogo.

Do obscurantismo, agarremo-nos agora ao iluminismo. Marcelo seria o nosso Immanuel Kant, filósofo alemão para quem só chegaríamos ao conhecimento após entendermos, primeiramente, os nossos limites. Segundo ele, a menoridade do homem se deve à preguiça e à comodidade, defendendo que é preciso sair da “zona de conforto”, o que exige certo esforço. Kant observava que era mais fácil acreditar no inexplicável do que usar as próprias pernas.

O futebol não é uma ciência exata, claro, e não é o caso de abolirmos a emoção, fazendo dos jogadores robôs programáveis. O amor ao clube, muito vezes, é igual à religião. Como observa meu amigo atleticano Gustavo, um ateu convicto que tem um pôster da famosa defesa de Victor no quarto e que não parava de berrar “Eu acredito!” na final da Libertadores de 2013, a linha sucessória de treinadores no Galo  tem sido parecida com a dos papas, alternando uma gestão longa e outra mais breve.

Depois de Cuca, veio Autuori, que ficou pouco mais de quatro meses no comando do time em 2014. Foi demitido após exibir nenhum pingo de criatividade e se preocupar mais em defender. Não muito diferente de Aguirre, que entrou no lugar do vitorioso Levir Culpi. Se essa lógica prosseguir, Marcelo deverá ter vida longa e próspera, frase célebre do vulcano Spock, um dos personagens da ficção-científica “Jornada nas Estrelas” e um adepto da lógica que soube tirar o melhor dos humanos.

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