O jogo que não existiu

06/12/2016 às 12:10.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:58

É como se tivesse sido abduzido e retornasse à Terra alguns dias após o Atlético perder o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, em pleno Mineirão.

São Paulo não é a Conchinchina, devo admitir. E lá na rua 25 de março é bem provável que encontre, a preços bem módicos, as botas perdidas por Judas.

Mas a verdade é que aquele jogo não existiu para mim. E não estou falando no sentido figurado, de um atleticano decepcionado com o desempenho do time.

Além do placar, nada mais soube sobre o 3 a 1 que obriga o Galo a vencer o Grêmio amanhã, por uma diferença de dois gols, no Sul.

Ao contrário de meus amigos incrédulos, minha confiança no título em nada mudou.

O “apagão” – o meu e não o do time – foi uma prova de amor. Não ao clube, claro. Trata-se de uma dívida antiga, criada em 23 de julho de 2014.

Neste dia, o alvinegro foi campeão da Recopa, exatamente na data de aniversário de minha esposa, que morre de medo em frequentar estádios.

Por mais que eu tivesse antecipado a festança, não tê-la ao meu lado nas arquibancadas criou um peso que só aumentou com o passar do tempo.

Em férias, rumamos para São Paulo naquela semana. Em nenhum momento falei do jogo e ela, reconhecida, perguntou se eu não queria assisti-lo num bar.

A vontade era grande, mas fui firme e, para não soprarem nada em meus ouvidos, pegamos uma sessão de cinema justamente no mesmo horário.

Nos últimos tempos, o jogo do Galo não tem se encaixado com o do Grêmio, forte defensivamente e com um bom aproveitamento nos ataques.

O time de Marcelo Oliveira precisaria ter “erro zero” para vencer, o que também vale para o segundo jogo da final.

Além dessa prova de amor, não ver a partida não diminuiu em mim aquela sensação milagrosa que nos acompanha desde 2013, em que tudo pode acontecer.

Num time que conta com Victor, Marcos Rocha, Donizete, Robinho, Fred, Luan e Pratto, não é possível jogar a toalha.

O presidente Daniel Nepomuceno reafirmou, dizendo que não jogou a toalha ao demitir Marcelo e colocar Diogo Giacomini no lugar.

Se a tragédia com o avião da Chapecoense tirou a decisão do dia 30 de novembro, chegamos ao 7 de dezembro renovados de alguma forma.

O verbo “acreditar” voltou a ser entoado, de uma maneira jamais vista no futebol mundial, unindo times e jogadores de norte a sul, leste a oeste.

No sábado, aconteceu o nascimento (palavra que nos traz a ideia de começo) de Matheus, filho de Giacomini, nome que significa “presente de Deus” em hebraico.

Pode ser um recomeço, com o Galo provando seu valor em 90 minutos, decidindo num único dia o que deveria ter mostrado em toda a temporada.

Por sinal, foi num 7/12 que franceses e espanhóis bloquearam a Conchinchina citada no início da crônica, que marcaria a vitória sobre o oponente em seu território.

Foi num 7/12 que o Japão fez um ataque de surpresa em Pearl Harbor, durante a Segunda Guerra. Data que o São Paulo sagrou-se hexacampeão brasileiro, em 2008.

Por fim, é o dia do nascimento do linguista, filósofo e ativista político americano Noam Chomsky. O que ele tem a ver com tudo isso?

Bom, ontem eu vi o filme “Capitão Fantástico”, que estreia nos cinemas no dia 22. Numa das cenas, um pai e seis crianças celebram, coincidentemente, o aniversário de Chomsky.

E a festinha, feita na estrada, tem a ver com a ideia de sobrevivência a um mundo cada vez mais hostil e convencional, a partir da união de seus integrantes.

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