Pedra 90, só enfrenta quem aguenta

10/04/2017 às 19:43.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:05

DUDU MACEDO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO / N/A

 Fiz uma busca na internet com “90 dias” e só achei promessas de dinheiro fácil, garantia para depiladores e metas para ficar “trincado” em três meses. Queria, na verdade, alguma informação histórica a respeito dos primeiros momentos de algum presidente, imperador, faraó, czar ou cargo equivalente no poder, tentando vislumbrar situações que se assemelhassem ao período de Roger Machado no comando atleticano. Nos últimos tempos, técnicos que deixaram o Campeonato Mineiro em segundo plano, para priorizar a Libertadores, ou exibiram um desempenho muito abaixo do desejado, ganharam cartão vermelho mais rápido do que aqueles que assumiram a função durante o Brasileiro. Ainda é difícil saber se Roger está mais para Paulo Autuori e Diego Aguirre, que não ficaram mais do que cinco meses, ou para Levir Culpi e Marcelo Oliveira. Já estava quase desistindo da pesquisa quando encontrei algo sobre “Os Primeiros 90 Dias – Estratégias de Sucesso para Novos Líderes”, de Michael Watkins, descrito como “o livro de cabeceira de todos que são promovidos”. Não sei se Roger, recém-iniciado na profissão de treinador, teve acesso à publicação, um guia clássico, diz a propaganda, para ajudar nos momentos críticos da transição de carreira. Claro que o foco do autor é a administração de empresas, mas futebol cada vez mais tem se parecido com um grande negócio, até mesmo em sua gestão. Tempo não é só money como também uma forma de diminuir os efeitos da crítica implacável dos torcedores. Quando o time vai mal, demite-se o técnico. Os resultados podem não melhorar, mas aí serão mais 90 dias para sair à procura de um novo comandante. Aliás, fiquei curioso, no caso do livro, sobre a razão de 90 dias ser um período tão problemático – por que não 60 ou 120 dias? Mas o número, pelo o que entendi, vem de um levantamento feito por três anos e financiado pela renomada Harvard Business School, nos Estados Unidos. Watkins explica que, nesse período, pequenas atitudes do novo profissional podem ter impactos desproporcionais sobre os resultados. Evidentemente que não dá para levar tudo à risca. Cuca amargou várias derrotas em 2011 antes de pôr o Galo nos eixos e tirar o rebaixamento do caminho. E, depois, se revelou um técnico vencedor, um dos mais importantes da história do alvinegro. Do fiasco do 6 a 1 se seguiu um longo tempo sem perder para o arquirrival. Com ele no comando, o Atlético conquistou, além da Libertadores, o Mineiro de 2012 e 2013. Qual é a diferença então entre Cuca e Roger? Talvez os objetivos a curto prazo. Cuca tinha como meta a permanência na série A e conseguiu. No caso de Roger, após dois tropeços para o Cruzeiro, seguido de uma derrota para a Caldense com os reservas, parece não haver outro objetivo mais imediato que o título do Mineiro. E, de preferência, com todos os titulares em campo, já que essa história de poupar jogador não fez bem a Aguirre. Mas também não podemos culpá-lo pela falta de boas peças na defesa. A verdade é que, toda vez que a bola chega lá trás, o torcedor tem calafrios, sentindo falta de um volantão como Pierre para jogá-la “para o mato”. Papel que talvez caberá a Roger Bernardo, que ainda levará 90 dias para ser apresentado. Quem sabe ele não seja, depois de tanta garimpar, o nosso pedra 90! Como dizia Francisco Milani na Escolinha do Professor Raimundo, “pedra 90, só enfrenta quem aguenta!”.

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