Sacanagem

09/08/2018 às 18:09.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:51
 (Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/Divulgação / N/A

   O título é forte, eu sei, mas não me veio outra palavra melhor após mais um jogo em que o Atlético primou pela falta de malícia, daquela malandragem que todo time – brasileiro, principalmente – precisa ter. Afinal, fomos campeões da Libertadores assim, não? Sim, ou vocês se esqueceram do primeiro gol do Galo na competição de 2013, diante do São Paulo, fruto da mais pura “sacanagem”? Rebobinando: Marcos Rocha cobra um lateral em direção a Ronaldinho Gaúcho, livre na área para tocar para Jô completar... Agora com tradução: Ronaldinho avisa a Rocha que dará um “migué”, pedindo ao goleiro Rogério Ceni um pouco de água e ficará por lá, de bobeira. Jô, parça de R10, já está ligadíssimo no esquema, pronto para receber a bola em condições excepcionais.  Papo de malandro que abriu o caminho do título. O Atlético de hoje é o São Paulo de 2013: ingênuo, caindo nos mais velhos truques da boa lábia futebolística. O zagueiro Gabriel subiu aos céus (sem achar nada nas bolas aéreas), virou santo e deixou as pedras (de gelo) no caminho dos companheiros. Há cinco anos, tínhamos santos – Victor que o diga! – e demônios também, infernizando as zagas, metendo curva nas bolas paradas e botando o terror diante de qualquer adversário que chegasse ao Independência. “Perdeu, rapaz!”, pareciam dizer. Contra o Internacional, o pensamento de Larghi foi leve como a opção dele em colocar Nathan e Terans num campo pesado, massacrado pelo granizo e pelo futebol feio. Do outro lado, um volantão aproveitou a falha defensiva atleticana para fazer o único gol do jogo. Um pé diante da bola, na cobrança de falta, que cansamos de fazer nas peladas de final de semana, bastaria para evitar o desastre, numa jogada tão rápida quanto àquela de 2013. Tanto que quase ninguém no estádio viu o gol, incluindo os jogadores atleticanos. São Pedro (ou São Paulo, líder do Campeonato Brasileiro) deve ter mirado as pedrinhas somente na cabeça do time alvinegro, como se lhes cobrasse uma atitude qualquer. O que se viu, dentro e fora de campo, foi um grande apagão. O apagão (o verdadeiro) costumava ser bom para o Galo, sinônimo de gritos de “Kalil! Kalil!” e de uma certa malandragem para baixar o ímpeto adversário. Virou-se contra o feiticeiro, marcando a queda no volume de jogo dos donos da casa. A equipe começou a fazer água, afundando-se num futebol enlameado como as poças espalhadas pelo campo. Um barco à deriva como tem sido em grande parte da temporada, trilhando águas turvas depois de ser eliminado da Sul-Americana e da Copa do Brasil. Nesta altura do campeonato, o Atlético precisa de um Ayrton Senna, aquele capaz de pilotar um carro de Fórmula 1 em condições adversas. Precisa de sacanagem, com cenas fortes e proibidas para quem acha que futebol é uma mera caixinha de surpresas. Como já disse o velho sábio Rivaldo, companheiro de R10 na Seleção e responsável por um 7-1 a nosso favor na Copa do Mundo de 2002, ao simular ter sido agredido por um jogador turco, “no futebol, ganha quem tem um bom time, joga bem e tem malandragem”. Ponto final. 

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