Toco y me Voy

10/01/2017 às 13:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:22

Bruno Cantini/Atlético / N/A Se Roger fosse uma das minhas namoradas, ele seria a Lu, garota intensa, determinada e cheia de planos. Essa comparação pode soar meio estranha, mas a cada novo treinador no Galo é como um namoro que começa, com a torcida e e com o time, envolvendo certa desconfiança e a vontade que o passado não se repita. Lu foi a que mais investiu na relação, aquela que entrou com tudo e expectativas mil. Era bem mais nova do que eu, mas não se intimidava. Ela era o meu yang, ativa e luminosa, querendo explorar o que eu não enxergava em mim, jogando-me para cima o tempo todo e obrigando-me a não ficar parado. Esse é o papel de um treinador, ainda mais de um técnico tão novo quanto Roger, que só havia comandado times do Sul. A esperança em torno dele é a chegada de coisas novas e, fundamentalmente, a possibilidade de extrair mais do grupo que tem em mãos. Com raras exceções, todo o elenco atleticano deixou a desejar em algum momento de 2016. O novo nem sempre é um bom sinal, vide a lista de treinadores que passaram por aqui nesse milênio. Além de um estado diferente, o ex-gremista vai encontrar uma equipe que não costuma dar certo com promessas da prancheta. Duvida? Uma das últimas vezes que o Galo apostou num nome jovem foi Paulo Bonamigo, em 2004. Assim como Roger, Bonamigo fez seu currículo numa determinada região (o Paraná), onde comandou o Paraná e o Coritiba antes de assinar com o Galo. Além da mesma procedência gaúcha (Paulo é nascido em Ijuí) e terem se destacado no Grêmio como jogadores, os dois chegaram ao Atlético praticamente com a mesma idade, na faixa dos 40 anos. Paulo Bonamigo não ganhou título no Atlético, o que espero não se repetir com Roger. Para quem, sinceramente, não desejo também o mesmo destino de outras apostas atleticanas como treinador – alguém se lembra de Zetti (2007) e Alexandre Gallo (2008) na beira do campo? E, claro, nenhum deles levantou a taça de campeão no Atlético. Uma exceção foi Humberto Ramos, mas bem exceção mesmo, porque o ex-ponta atleticano, campeão brasileiro em 1971, era um dirigente do Galo quando o uruguaio Dario Pereyra foi levado a abandonar o barco, em 1999. Assumiu Humberto, que conduziu o time até à final do nacional, perdendo o título para o Corinthians. Lu, lembro bem, era cheia de energia e estava sempre aberta ao diferente. Um dia nunca era o mesmo do outro. Saltei de para-quedas, apesar do meu medo de altura, e fiz uma prova de rali, como navegador, botando tudo que estava no estômago para fora, ao final. Até o dia que percebi que já não era eu mais, mas fruto de uma idealização dela. Muitos técnicos são assim, incutindo à força o seu sistema. Alguns dirão que Diego Aguirre foi assim, insistindo em determinadas peças. Dirão o mesmo de Marcelo Oliveira, responsabilizado pela frágil defesa atleticana. Nesses anos como cara-metade e torcedor, aprendi que o melhor é ter um pouco de Cuca e de Levir Culpi. Com os dois no comando, era nítida a felicidade dos jogadores em campo. Felicidade não ganha jogo, mas é a base para nos motivarmos e reconhecermos o papel naquela relação, recebendo e dando de volta – concebido, no futebol, desde 1949, pelo técnico inglês Arthur Rowe, esse um-dois é até hoje o melhor caminho para se chegar ao gol.

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