A longa recessão

09/03/2017 às 16:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:40

Paulo Paiva*

O IBGE divulgou esta semana o tamanho da retração do PIB no ano passado: a economia retraiu 3,6% em 2016. No ano anterior já havia encolhido 3,8%, acumulando-se assim 7,5% de queda em dois anos. A mais profunda e longa recessão na história brasileira. São 12 meses consecutivos em que o país perde renda e emprego. Nesses dois anos, mais de 12 milhões de trabalhadores ficaram desempregados. Milhares de médias, pequenas e micro empresas foram fechadas.  A renda per capita, que é medida pela divisão do PIB pela população total, vem caindo desde 2014. Nesses três anos, o Brasil ficou 10% mais pobre!

As causas deste desastre são conhecidas. O crescimento da economia até então era consequência da demanda externa por commodities, que provocava a expansão de seus preços, e pelo aumento do consumo interno, anabolizado pelo governo por meio, quer de incentivos para alguns setores com isenção de impostos e/ou crédito subsidiado, quer do aumento descontrolado de seus gastos, quer ainda do controle artificial de preços, como dos derivados de petróleo e da energia elétrica.

A partir de 2012, o vento externo virou. Os preços de commodities caíram reduzindo o valor das exportações. O governo da época, acreditando ser possível o milagre da multiplicação dos pães, aumentou ainda mais seus gastos e abriu mão de receitas, oferecendo benesses sem considerar suas próprias restrições. A inflação disparou e a capacidade de consumo da população de renda média, já muito endividada, se esgotou. A economia entrou em colapso. Desde 2011 o crescimento do PIB vem perdendo força.

A boa notícia é que o fundo poço ficou para trás. A taxa anualizada do PIB teve sua queda maior no final do segundo semestre de 2016, quando chegou a – 4,8%. Desde então a queda da economia vem se desacelerando.

As estimativas mais realistas indicam que no final deste ano, poderá haver algum crescimento, modesto, mas já na direção da retomada. Retomada que será lenta porque o estrago foi muito grande. As empresas que restaram e as famílias estão endividadas e o governo vive crise fiscal sem precedentes. 

(*) Professor associado da Fundação Dom Cabral. Foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

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