Adolescência: De quem é a vida afinal?

15/02/2017 às 19:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:59

Anita Bacellar*

Nos últimos 40 anos fui agraciada pela presença constante dos jovens na minha vida. A convivência com eles me deu a possibilidade de olhar para a adolescência como um período da vida que é muito mais do que um estado de “aborrecência”, que passará com o tempo.

Quero dizer com isso que a adolescência na nossa sociedade é, de fato, um período de transição entre a infância e a vida adulta, com um início e um fim de difícil precisão, caracterizado por várias transformações físicas, cognitivas, sociais e psicológicas, que independem da vontade ou da condição dos jovens de interagirem com elas. 

Além disso, é um momento da vida em que vivemos mergulhados em dilemas, conflitos, dúvidas e incertezas. Desejamos conquistar a tão almejada liberdade, mas não sabemos se assumiremos as responsabilidades pelos nossos atos. Queremos ser independentes dos nossos pais, mas não sabemos se conseguiremos nos subsidiar sozinhos. Queremos realizar nossos sonhos e ideais, mas não sabemos se conseguiremos transformá-los em realidade.

No entanto, a juventude é muito mais do que isso. Ela representa um momento de transição que convida as gerações mais velhas a repensarem as suas verdades. É o momento em que eles nos convidam a reinventar nossas aprendizagens do passado. 

Nossos jovens, filhos dos avanços econômicos e tecnológicos, se acostumaram a conseguirem tudo o que querem, a estarem sempre conectados, a digitar ao invés de escrever e, por isso, almejam uma vida que ofereçam crescimentos pessoais e salários altos. 

Enquanto isso, nós, os filhos da ditadura, que vimos nossos sonhos e ideais cultivados na juventude serem destruídos por um governo autoritário, que restringiu os direitos individuais, temos medo do futuro e queremos que nossos jovens percebam que a vida é dura, o caminho é longo e o preço que se paga pela realização de um sonho é muito alto.

Está na hora de nos perguntarmos: Quem conduzirá a história do futuro? Os medos dos filhos da ditadura ou a confiança dos filhos da globalização? De quem é a vida afinal? Nossa ou dos filhos do nosso Brasil? 

(*) Psicóloga
 

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