Corruptores e privilegiados

09/06/2017 às 14:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:00

Aristoteles Atheniense*

Subsiste inaceitável o pernicioso acordo firmado entre Joesley Batista e a PGR, por maior que seja o empenho de Rodrigo Janot em justificar a avença celebrada. O jornalista Lauro Jardim, responsável pela divulgação da questionada gravação, disse que o seu “furo” fora baseado em transcrição pela Procuradoria e que, ao propalar o fato, até então não ouvira a mencionada gravação.

Vale lembrar que o dono da JBS se evadiu para os Estados Unidos no dia 10; já a propagação do que fora gravado ocorreu em 17 de maio. Entre a data do registro da conversa e a difusão do escândalo, Joesley comprou milhões de dólares e vendeu milhares de ações, demonstrando, assim, saber o que estava prestes a ocorrer e os efeitos ruinosos que a sua conduta iria provocar.

Certo, pois, que houve um acerto prévio entre a PGR e o delator, pelo qual ficou ajustado que a novidade revelada pelo jornal “O Globo” só viria a público quando Joesley não mais se encontrasse no Brasil.

Tornou-se fato incontroverso que o astucioso Batista gravou realmente a conversa mantida com Temer. Embora houvesse afirmado, também, que Lula e Dilma foram por ele igualmente contemplados, é estranho o silêncio de Janot e do ministro Fachin quanto à propina obtida pelos ex-presidentes petistas.

Daí a indagação: por que Lula não negociou com a PGR a delação nas mesmas condições dos irmãos Batista? Caso assim procedesse, se livraria de todos os processos em andamento e futuros, garantindo, com a imunidade criminal, a sua candidatura nas próximas eleições.

Como a vantagem obtida por Lula foi consideravelmente superior à recebida por Temer, forçoso será admitir que quanto maior o proveito obtido por Lula e Dilma, menos grave será a situação de cada um. No caso vertente, esse lucro foi da ordem de US$ 150 milhões de ajuda que vieram de “empréstimo” do BNDES.

A esta altura, Lula já é um virtual candidato tanto nas eleições diretas, como no pleito de 2018.
Assiste razão ao jurista Ives Gandra quando, em recente entrevista, recusou-se a admitir que as punições aos irmãos Batista tenham sido brandas: “Seriam brandas se tivesse havido pena, mas não foi nem isso. Eles sabiam que provocariam um colapso na Bolsa de Valores a partir da delação, e ainda aproveitaram para ganhar dinheiro comprando dólares com essa informação privilegiada”.

Ainda, segundo Gandra: “São os maiores corruptores da história do Brasil e receberam anistia penal completa. Isso me revolta. Esse é um país para os espertos, não para os honestos. E tudo isso com dinheiro meu e seu. Passaram um atestado de imbecis a todos os brasileiros”.

(*) Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do IAB e do Iamg.

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