Democracia e autoridade

25/09/2017 às 15:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:43

 Aristóteles Drummond*

Um dos fatores da crise nacional, ampla, pois envolve os três poderes  e a economia, é que nossa democracia, retomada em 1985 por  iniciativa dos militares, sob o comando do presidente  Figueiredo,  deixou-se levar por todos os tipos de excessos. Foi isso que nos  trouxe a esse derretimento e apodrecimento das instituições, muito  mais para um regime anárquico do que uma democracia moderna.
No século passado, o Brasil gerou, entre 30 e 85, um time de grandes juristas. Estes já alertavam para os riscos de um regime sem  controle, sem limites, sem o exercício da autoridade na preservação da  ordem, da paz e da segurança. A seleção de notáveis incluía nomes como Vicente Rao,  que presidiu o Tribunal de Segurança Nacional em tempos de muita tensão nacional e  internacional e foi ministro por duas vezes de Getúlio. O educador  Francisco Campos, talvez o mais completo intelectualmente, foi  ministro da Educação e da Justiça de Vargas e deu o arcabouço jurídico ao Estado Novo, que garantiu os anos progressistas da Era Vargas, quando o mundo estava na crise e em guerra. Campos ainda veio a dar um fecho de ouro em sua carreira, colaborando com os militares em 1964. Fez antes, em Minas, com Antônio Carlos de Andrada, a primeira e vitoriosa reforma do ensino.
Além dos citados, muitos outros tinham odores de sabedoria e bom  senso, como Miguel Reale, brilhante defensor da democracia com ordem,  que chegou à Academia Brasileira. E mais: Alfredo Buzaid, que foi  ministro de Médici, e Leitão de Abreu, ministro de  Médici,  Figueiredo e do  STF. Há quem discorde dessa linha do autoritarismo esclarecido, que  respeita o direito de ir e vir, a propriedade e a liberdade de  imprensa, que é a essência da democracia. Hoje, aliás, com as redes  sociais, nem adiantaria tentar fazer diferente.
O que anda faltando em Brasília hoje é um freio de arrumação,  alertando os três poderes para a repulsa da sociedade mais culta ao  abuso no exercício de nobres funções. E, claro, uma boa cabeça para  elaborar um texto que respeite as conquistas democráticas, mas com ordem e limites.
(*) Escritor e jornalista

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