(Editoria de Arte)
Leônidas Oliveira*
Le Corbusier, chamado de pai da arquitetura moderna no mundo, em uma das conferências que fez na America Latina disse: “compreendi na terra desses irmãos, os escrúpulos, as dúvidas, as vacilações e as razões que motivam suas manifestações e tenho confiança no futuro. Debaixo de semelhante luz, a arquitetura nascerá.”
E foi justamente em Belo Horizonte que ela nasceu. Desenvolveu-se aqui uma forma arquitetônica tipicamente brasileira, aflorada na Pampulha, em 1942-43.
Ouro Preto foi luz para os modernos. O tempo que separava essa cidade da época moderna foi tratado como senha de identidade como dizia Niemeyer. “A curva lineal e sensual que a nova técnica sugeria e as velhas igrejas barrocas lembravam. (...)”.
Desse modo, na Igreja da Pampulha, o barroco curvo é revisitado de forma plena, sem, contudo, esquecer a forma originária moderna e sua crítica metafórica e não sem simbolismo. A arquitetura racionalista envereda, portanto, para outro caminho: O simbólico, na forma e na renovada comunhão entre a arquitetura e as artes plásticas.
É a Igrejinha, marco da arquitetura moderna e da obra de Niemeyer. Nela foi criado um arcabouço leve e sintético, ao mesmo tempo, surpreendente e impressionantemente vinculado a nossa tradição colonial. Essa arquitetura ressalta os mesmos atributos contidos na encantadora rusticidade do trabalho realizado no século XVIII pelos construtores das capelas rurais em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, sobretudo na delicadeza do Rococó dos mestres barrocos, e em especial na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, cuja cobertura assemelha-se de forma espantosa à da Igrejinha, com a superposição de volumes.
Desse modo, naquele tempo, o movimento moderno e a Igreja da Pampulha nos revelaram o futuro da arquitetura religiosa que se viu no Brasil e em Brasília, de forma especial, nos anos posteriores. Na Igrejinha da Pampulha, houve o uso da abóbada parabólica que permitiu que se construíssem, como um único elemento, o teto e as paredes, estreitando a parábola de modo que se alargasse ligeiramente na medida em que se aproximasse do altar.
Assim, em São Francisco da Pampulha já começa a se delinear também um Niemayer que usa a luz como elemento motriz na concepção de espaços religiosos. Essa luz, fartamente utilizada, está sempre criando quase que uma preponderância do mundo exterior para com o interior.
Desse modo, o movimento moderno e a Igreja da Pampulha, de Niemayer, lançaram uma luz reveladora sobre o futuro do templo brasileiro, onde impera a Cultura Humanizadora corrente revisitada no concílio Vaticano II, vinte anos depois. Cumpre-se, assim, de forma plena, uma das missões da arte: antever o futuro.
(*) Presidente da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte