A menstruação faz parte da fisiologia da mulher, mas alguns fatores tornam o ciclo um problema. Considera-se sangramento uterino anormal a perda excessiva de sangue menstrual com repercussões físicas, emocionais, sociais e materiais na qualidade de vida da mulher ocorrendo isoladamente ou em associação com outros sintomas. Trata-se de condição frequente que atinge até um terço das mulheres em algum momento de suas vidas.
O problema causa impacto negativo na qualidade de vida, pois essas mulheres mudam o tipo e a cor das roupas, interfere na relação com o parceiro, se sentem inseguras, menos atraentes e evitam eventos sociais. Os desempenhos esportivo, escolar, profissional e atividades diárias também são frequentemente afetados. O sangramento ainda pode causar anemia e diminuição da concentração de ferro na corrente sanguínea. É preciso se atentar que as mulheres com faixas etárias mais avançadas apresentam risco aumentado para uma causa estrutural do sangramento e requerem maior atenção.
Os miomas uterinos, pólipos endometriais, adenomiose e o câncer de endométrio constituem causas estruturais de sangramento uterino anormal. No entanto, a maioria das mulheres apresenta causas não estruturais de sangramento, onde não se identifica uma alteração anatômica associada à perda excessiva de sangue menstrual.
O diagnóstico baseia-se na história e exame clínico detalhados, além de exames como hemograma para avaliar os níveis sanguíneos e teste de gravidez. Os métodos de imagem, como a ultrassonografia transvaginal, e a histeroscopia podem ser úteis para afastar uma causa estrutural do sangramento.
O trabalho do profissional de saúde deve ser muito sensível, uma vez que a percepção da mulher em relação à quantidade de sangramento é relativa. Uma perda de sangue menstrual superior a 80 ml por ciclo é considerada sangramento uterino anormal. Os estudos internacionais revelam que 41% das mulheres com perda sanguínea menstrual superior a 80 ml consideram o sangramento moderado ou mesmo escasso.
Por outro lado, já no grupo com perda menor que 20 ml, 14% consideram aumentado. O médico deve estimar a perda de sangue em relação à perda de coágulos ou transbordamento e a sensação de mal-estar durante os dias da menstruação.
O tratamento do sangramento uterino anormal visa reduzir a perda de sangue menstrual e melhorar de forma significativa a qualidade de vida das pacientes. Varia conforme cada caso, usando medicamentos ou procedimentos cirúrgicos.
Existem opções eficazes de tratamento conservador que devem ser oferecidas a todas as mulheres, inclusive no momento em que outros tratamentos estão sendo considerados. Quando consultar as pacientes a respeito da escolha terapêutica, o médico deve considerar aplicabilidade, disponibilidade e aceitabilidade para cada opção.
Agnaldo Lopes - Professor doutor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ginecologista