Obesidade: uma doença grave e de difícil tratamento

27/11/2017 às 06:00.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:53

Leonardo Salles de Almeida (*)

Atualmente no Brasil, o excesso de peso foi registrado em mais da metade da população, enquanto a obesidade foi constatada em 18,9%, segundo o Ministério da Saúde. Um relatório divulgado pela World Obesity Federation revelou que os custos anuais com os problemas de saúde ocasionados pelo excesso de peso subirão de US$ 16,7 bilhões em 2014 para US$ 34 bilhões em 2025. Ainda se estima que, nesta época, existirão 2,4 bilhões de adultos com sobrepeso e 800 milhões de obesos no mundo.

Neste cenário, os procedimentos bariátricos se tornam opções para o paciente com obesidade, que a partir dos mesmos consegue uma janela terapêutica, ou seja, emagrecer e permanecer magro por um bom tempo, variando de acordo com o modelo cirúrgico ou endoscópico utilizado. Mas será que a cirurgia bariátrica pode ser encarada como um recurso definitivo contra a obesidade?

Acredito que o importante quando se deseja tratar o peso é justamente, não tratar somente o peso, pois esse é apenas um sintoma do problema. Temos que discutir a síndrome da obesidade, debatendo as causas que acabam por levar ao ganho de peso. O fundamental é abordar a obesidade como síndrome que é, cuidando dos fatores desencadeantes com boa psicoterapia, reeducação alimentar, incorporando a atividade física no dia a dia e aceitando a necessidade da mudança de estilo de vida.

É muito comum que o paciente procure realizar a cirurgia bariátrica pensando que o procedimento irá resolver os problemas com o peso e que o mesmo nunca mais vai precisar se preocupar ou fazer nada a respeito. Recentemente, se constatou que alterações hormonais podem contribuir para o reganho de peso, mas a participação é pequena em vista da relevância de um bom tratamento multidisciplinar. O tratamento para o emagrecimento deve ser iniciado em consulta, onde se avalia qual o método ideal para cada paciente: dieta e atividades físicas, farmacológico, endoscópico ou cirúrgico.

Os métodos farmacológicos de emagrecimento embora tentadores, pois, aparentemente não são invasivos, podem causar um desequilíbrio bioquímico que dificulta significativamente a fase de estabilização do peso, levando o paciente quase sempre a um efeito sanfona intenso. O ideal seria que o paciente conseguisse emagrecer somente com o método clássico, com nutrição, e atividades físicas, mas este se mostra ineficiente na prática, tendo quase sempre como resultado final o abandono do tratamento após dois ou três meses.

O ser humano moderno em geral anseia por resultados imediatos. Ao perceber que as ações não estão surtindo mudanças rápidas, costumam abandonar o tratamento. Observo que neste processo, procedimentos como balão intragástrico e a gastroplastia endoscópica podem contribuir dando respostas mais palpáveis e impulsionando o tratamento multidisciplinar.

Na maioria dos casos, os pacientes podem ir para casa no mesmo dia de ocorrência destes procedimentos. No entanto, os mesmos devem iniciar a alimentação seguindo uma dieta líquida e leve e ainda seguir orientações de uma equipe multidisciplinar formada por um cirurgião bariátrico, endocrinologista, psiquiatra, psicólogo, nutricionista e preparador físico, para que um novo estilo de vida seja adotado.

É recorrente que pacientes que passaram por procedimentos cirúrgicos e não se preocuparam em fazer um tratamento multidisciplinar adequado, comecem a engordar novamente e tenham, a longo prazo, a recidiva da obesidade. Percebo que é de grande importância que a obesidade seja entendida como uma doença grave e de difícil tratamento, necessitando de controle constante, mesmo em casos em que o paciente opte pelo tratamento cirúrgico. 

(*) Cirurgião bariátrico e diretor do Instituto Mineiro de Obesidade (IMO)

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