Paradoxos do Brasil

18/09/2017 às 15:09.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:37

Aristóteles Drummond*

Carlos Chagas, meu saudoso amigo e príncipe de nossos cronistas de política por mais de quatro décadas, se referia com frequência à obra inglesa O Médico e o Monstro para comentar a contradição de governos ou políticos no trato de assuntos de alto interesse nacional. O mesmo governo ou político que acertava era o que, a seguir, errava. 

Estou convencido de que Chaguinhas, se vivo fosse, estaria lembrando o livro de Robert Stevenson em relação a Temer e seu governo, que leva a perplexidade aos observadores e atores da política nacional. Tudo por causa de uma série de acertos propostos seguidos de recuos lamentáveis. 

Temer prometeu categoricamente que ministro seu indiciado seria afastado, no auge da crise de Geddel. Hoje, já não diz a mesma coisa, recorrendo a sofismas. Propõe o fim do inacreditável “salário-prisioneiro”, maior do que o mínimo e, em meio aos aplausos nacionais, recua por recear uma rebelião nos presídios. Recebe, à noite no Jaburu, um empresário de sua intimidade e, após algumas semanas, afirma se tratar de um bandido. Declara a este, em gravação conhecida, que o então deputado Loures era homem de sua integral confiança e, depois, garante nada ter com a mala de dinheiro que o mesmo foi buscar em seu nome. Antes, para por fim à baderna e depredações na Esplanada dos Ministérios, convoca as Forças Armadas e, na manhã seguinte, cede aos ressentidos. E ainda ameaça macular a oportuna reforma trabalhista por pressão de centrais sindicais. Grande ideia teve o Ministro Meireles de acabar com a Golden Share. Vai fazer?

Realmente, convivem no governo Temer a banda do médico e a do monstro, esta infelizmente maior e mais influente. Tem uma equipe econômica que mantém o país de pé, apesar da crise singular em que o mundo cresce e nós estarmos parados. Há obras paradas em todo o país, inclusive as de parcerias ou concessões como a importante BR-040.

No lugar da prioridade para a maioria parlamentar, deveria buscar o respeito da maioria de brasileiros que trabalham, investem, ousam na busca do crescimento, do emprego. Assumir a reforma fiscal e a da Previdência, sem toma lá dá cá, mesmo que fatiadas, é o que lhe garantiria a sobrevida que tanto busca.

 (*) Escritor e jornalista

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