Quarenta anos de fertilização in vitro

23/07/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:31

Selmo Geber (*)

Há 40 anos foi anunciado o nascimento do primeiro bebê de proveta e da técnica que iria revolucionar o tratamento para a infertilidade conjugal. Criada para solucionar as dificuldades de um casal obter uma gravidez devido à obstrução das trompas em casos ditos inoperáveis, a fertilização in vitro surgiu num período pós-revolução sexual. Com a liberação sexual, foi observado aumento na incidência de DSTs, o que levou a uma maior frequência de obstrução de trompas e infertilidade.

Nessas quatro décadas, diversos avanços foram associados à técnica, permitindo um aumento nas taxas de gravidez e redução nos custos. Com isso, estima-se que mais de três milhões de crianças já foram geradas a partir da técnica.

Foi desenvolvido método de injeção de um único espermatozoide dentro do óvulo, revolucionando o tratamento da infertilidade de causa masculina. Mulheres que não possuem mais óvulos, devido a tratamento anterior de retirada dos ovários, com quimioterapia/radioterapia, ou mesmo devido à menopausa, podem conseguir gravidez por meio da técnica de FIV, utilizando óvulos de doadora. Para os casos de mulheres que tiveram o útero retirado, a FIV permite que embriões obtidos em laboratório sejam transferidos para o útero de outra mulher.

O avanço das técnicas de criopreservação permitiu às mulheres a preservação da fertilidade mediante o congelamento de embriões e o aumento da taxa acumulada de gestação e, mais recentemente, o congelamento de óvulos. Esse tratamento é excelente alternativa para mulheres com necessidade de adiar a gravidez. O mais importante é que a mulher passou a ter controle sobre a capacidade reprodutiva.

A técnica de FIV possibilita também que casais homoafetivos possam constituir família com descendentes genéticos. Pessoas que desejam ter filhos sem um parceiro, também podem se beneficiar da reprodução assistida.

Desenvolvemos, ainda, a técnica de diagnóstico genético pré-implantação, que permite que os embriões formados em laboratório possam ser submetidos a estudos genéticos antes de serem transferidos para o útero, com objetivo de se evitar a transmissão de doenças genéticas. 

Para os casais sorodiscordantes, em que o coito descoberto (sem uso de preservativo) pode levar a um aumento no risco de contaminação, as técnicas de reprodução assistida permitem que a fecundação ocorra em laboratório e o embrião seja transferido direto para o útero, reduzindo muito os riscos de transmissão (até o momento, não existe caso relatado na literatura médica).

Uma pena que Patrick Steptoe e Bob Edwards (que chegou a receber o Nobel antes de falecer) não estejam vivos para comemorar esse enorme avanço da medicina.

(*) Professor Titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, membro titular da Academia Mineira de Medicina e fundador da Clínica Origen

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