Aristoteles Atheniense*
Após ter sido aprovada pelo Senado, no último dia 12, para o cargo de procuradora-geral da República (74 votos a favor e 1 contra), Raquel Dodge deverá exercer função relevante no curso dos processos que o atual procurador-geral pretende instaurar contra o presidente Michel Temer.
Rodrigo Janot, mesmo sustentando que fará valer a sua caneta até 17 de setembro, quando ocorrerá a transmissão do cargo, já não encarna mais a figura ameaçadora com que vinha se apresentando até agora.
O retorno de Aécio Neves ao Senado, por determinação do ministro Marco Aurélio, em decisão que afetou o prestígio que Edson Fachin vinha conservando, respingou na pessoa de Janot. Enquanto que a alteração do regime prisional de Rodrigo Rocha Loures, determinada por Fachin, é sinal evidente de que novos ventos sopram em Brasília.
Antes de ser sabatinada, indagava-se se Raquel Dodge estaria capacitada a conter os excessos da Lava Jato, embora tenha afiançado durante sua campanha que apoiaria a operação. O senador Lindbergh Farias chegou a sustentar a conveniência de se proceder a sabatina da indicada somente em agosto, de forma que houvesse “tempo para a imprensa investigar”. Tratava-se de um sofisma, pois, na realidade, esse interesse não é da opinião pública, mas somente da oposição, que deseja saber o grau de relacionamento de Raquel com o governo, bem como se poderá atravancar o processo iniciado pela PGR.
Em 30 anos de militância no Ministério Público, Raquel Dodge, hoje com 55 anos, é detentora de expressiva bagagem jurídica e de professora da Universidade de Harvard. A sua atuação na força-tarefa que culminou na prisão do ex-coronel militar e deputado federal Hildebrando Pascoal (ao mesmo tempo em que amamentava uma filha recém-nascida), dá a medida exata de sua coragem no desempenho das tarefas que lhe foram investidas.
Dodge haverá de moderar o procedimento de procuradores que atropelaram garantias constitucionais, contando com o beneplácito de ministros do STF. Assim, dentre as inúmeras e importantes missões que irá empreender, está a mudança de foco da PGR, ainda que esta nova orientação não importe em renunciar aos motivos que inspiraram a criação da já vitoriosa operação Lava Jato.
(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do Iamg