Um jogo de interesses

12/01/2018 às 22:34.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:44

Aristoteles Atheniense*

Na concepção de Joaquim Nabuco, que era filho de senador e ministro da Justiça, descendente de família de grande influência em Pernambuco desde o século XVI: “A política deve ser firmada sobre os interesses atuais, sobre as questões presentes que constituem ou caracterizem a situação”.

A prevalecer esse juízo, o que importa é a vantagem atual que a atividade política possa produzir. Quanto à coerência, à conformidade e à lógica, que devam ser observadas no exercício dessa arte, não tem o menor significado, pois, o que importa é o fim a ser obtido.

Recentemente, partidos da chamada “base aliada” do presidente Temer não se envergonharam em anunciar publicamente a possibilidade de virem a apoiar a candidatura de Lula, ainda que o chefão petista possa ser o adversário mais acérrimo do governo atual. 

Assim, partidos que sempre estiveram no poder ávidos em auferir lucros, seja qual for o presidente da República, poderão assumir nova posição, sem que isto lhes traga qualquer constrangimento.

O líder do PP, Arthur Lira, anunciou que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) já declarou voto ao ex-presidente, que “foi o melhor presidente para este país, principalmente para o Piauí e o Nordeste”. 

O PR, através de seu líder José Rocha, “não descarta apoiar o Lula”, dependendo do andar da carruagem.

<TB>Caso Lula não tenha a sua condenação mantida em segunda instância, não será de estranhar que partidos que se posicionaram favoravelmente ao impeachment de Dilma Rousseff troquem de camisa, viabilizando um candidato empenhado somente em salvar a sua própria pele.

Embora sabendo que a reforma da Previdência é medida imprescindível para evitar o colapso das contas nacionais, o trovador de Garanhuns tem o desplante de afirmar: “A gente está vendo criança voltar a pedir esmola, aumentar o número de moradores de rua. Não fomos nós que causamos o problema, mas se não for a gente para resolver, ninguém vai”.

Com isto, recusa-se a admitir a paternidade da crise provocada e aperfeiçoada por Dilma Rousseff. Assim procede como se o eleitor fosse desmemoriado, sendo ele o único em condições de solucionar os problemas para os quais concorreu. 

Mas nada disso importa aos partidos que se aboletaram no desencontrado governo do presidente Temer e que não se acanham em assimilar as “ideias” de Lula, baldeando para o seu lado, tomados do oportunismo que possa produzir resultados. 

Decorridos quase dois séculos, a razão continua com Joaquim Nabuco ao afirmar que a política continua a ter por base os “interesses atuais”. E não a seriedade.

*Advogado e Conselheiro Nato da OAB . Diretor do IAB e do IAMG.
 

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