Aécio, Perrella e o doleiro condenado dos diamantes

24/05/2017 às 18:07.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:42

Pouco se prestou a atenção, mas na trama desvendada pela Polícia Federal aparece um doleiro, velho conhecido das autoridades. Conforme as investigações, no mesmo dia em que recebeu a segunda remessa de recursos oriundos da JBS, o assessor parlamentar do senador Zezé Perrella (PMDB), Mendherson Souza Lima, entrou em contato com Gaby Amine Toufic Madi. Era 12 de abril deste ano. 

Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Mendherson manteve uma conversa “cifrada” com o doleiro. 
A suspeita do procurador é a de que ao menos uma parcela, de R$ 500 mil, paga por Joesley Batista ao senador Aécio Neves (PSDB), entregue ao primo dele Frederico Pacheco e dada por este a Mendherson, tenha ido parar nas mãos de Gaby Toufic. O dinheiro era a segunda de quatro parcelas iguais de R$ 500 mil que Aécio teria pedido a Joesley para, segundo ele, pagar advogados.

“No que tange aos recursos pagos e acautelados por Mendherson, há um diálogo captado pela Polícia Federal, no dia 12/4/2017, ou seja, no mesmo dia do recebimento do dinheiro em São Paulo, no qual Mendherson mantém conversa cifradamente com Gaby Amine Toufic Madi, indicativo de que este tinha conhecimento acerca do evento ocorrido em São Paulo”, diz trecho do documento assinado por Janot, que pede a prisão, pela segunda vez, de Aécio. 

Gaby Toufic foi condenado a sete anos e meio de prisão. “É um doleiro, recém condenado a sete anos e meio pela 4ª Vara Federal da Justiça Federal de Minas Gerais (...) e pode estar atuando na lavagem de parte dos recursos ilícitos”, diz Janot no documento.

Gaby foi preso pela primeira vez em 2016 em uma operação da Polícia Federal que investigava o tráfico de diamantes. Na ocasião, o doleiro era suspeito de operar para o libanês Hassan Ahmad, acusado de mandar ao exterior US$ 1 bilhão em pedras preciosas brasileiras. A família Ahmad, na época, foi denunciada pela ONU por exploração ilegal de diamantes na África. Naquela ocasião, a revista “Isto É” mostrou que o Departamento Antidrogas dos Estados Unidos investigou a ligação dos Ahmad com o narcotráfico e com organizações terroristas. Amigo de Ahmad, Gaby, conforme a Polícia Federal, era suspeito de lavar o dinheiro da organização. 

Esse mesmo Gaby ressurge 11 anos depois da prisão pela ligação com Ahmad. Agora, suspeito de lavar dinheiro para os senadores mineiros. Na última quinta-feira, a Polícia Federal vasculhou o apartamento do doleiro no bairro Sion. Agentes entraram no local por volta das 6h e só saíram perto do almoço. Foi o endereço de busca mais demorado daquele dia.

Recall

No pedido de prisão de Aécio, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, traz à tona uma conversa grampeada na qual o tucano fala sobre a nova delação da empreiteira Andrade Gutierrez. A empresa está negociando com a PGR uma colaboração definitiva, desta vez com a participação do dono da empreiteira, Sérgio Andrade. Na primeira delação, a “Lava Jato” desconfia que Aécio tenha sido poupado pelos executivos. Chamado de recall da Andrade, a nova proposta de delação tem como objetivo revelar supostas ilicitudes da empreiteira na época do governo Aécio Neves. A Andrade disse que segue colaborando com as investigações em curso.

Confira abaixo nota encaminhada pela assessoria do senador Aécio Neves:

"Como já informado anteriormente, os R$ 2 milhões tratados no diálogo, gravado ilegalmente em conversa entre pessoas privadas, e sem qualquer relação com recursos públicos, referem-se a empréstimo que seriam usados para cobrir custos de defesa do senador Aécio Neves.

Se a intenção do delator não fosse única e exclusivamente forjar uma situação criminosa, a transferência desses recursos teria sido regularizada através de contrato de mútuo para que os advogados pudessem ser corretamente pagos.

O senador Aécio não conhece e nem mesmo ouviu falar do suposto doleiro mencionado".

(Colaborou Janaína Oliveira)

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