O manobrista de Cunha agora é ministro de Temer

24/02/2017 às 18:16.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:42

Pouco se falou sobre mais um fato inusitado na política brasileira. Há um ano não se dizia outra coisa senão as manobras de Eduardo Cunha (PMDB), então presidente da Câmara, para livrar-se da cassação.

O peemedebista contava com aliados – meses depois descobriu não serem tão fiais – que garantiam-lhe a empáfia usual. Cunha circulava nos corredores impondo medo. Sua presença desafiava até quem estava ali há anos a fio. 

Osmar Serraglio está no quinto mandato parlamentar. Conhece Cunha de outros carnavais. São aliados. Ou, ao menos foram, enquanto o carioca gozava de prestígio. 

O processo contra Cunha não andava. Em duas ocasiões, Osmar Serraglio, então presidente da Comissão de Constituição e Justiça, fez um favor ao amigo. Nomeou deputados que também eram aliados para darem pareceres sobre os recursos do colega. 

Foram dois recursos julgados por Arthur Lira (PP-AL) e Ronaldo Fonseca (Pros-DF). Ambos deram pareceres favoráveis a Cunha. Mas foram derrotados pelo colegiado. Porém, de manobra em manobra, Cunha ganhou sobrevida. 

Quando o deputado foi preso, Osmar Serraglio deu uma entrevista indignado. “É a queda da República”, disse ao saber da detenção do colega. De fato, a República caiu, mas Cunha ainda não abriu a boca. Talvez a nova República também tenha algo a temer. 

Serraglio ajudou o colega na Comissão de Constituição e Justiça. Porém, quando a opinião pública rebelou-se, o aliado lhe virou as costas. O deputado votou favorável à cassação do colega. 

Algumas outras posições do peemedebista: ele é favorável à punição severa a juízes e advogados por abuso de autoridade (A discussão veio nos esteio da disputa entre Legislativo e Judiciário) e defendeu menos poder à Funai.

Serraglio é um competente advogado, foi colega de Edson Fachin (ministro do Supremo Tribunal Federal) e aluno de Michel Temer, além de ter relatado a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios (junto com Delcídio do Amaral, presidente). Mas é tudo de velho que a política pode ter. 

No entanto, são essas peças, de pensamentos antigos, que dominam o governo federal. Por isso mesmo, Serraglio tem o perfil do ministério Michel Temer. Caiu como uma luva. Salvo aí algumas exceções (como Henrique Meirelles). 

Não se trata de dizer se a gestão peemedebista é boa ou ruim. Tem pontos assertivos. E muitos. Também não se trata de defender o governo passado. Ele errou. E muito. A inteligência econômica não era lá o forte de Dilma Rousseff (PT). 

Mas temos que andar para frente. Pensar diferente. Agir e nomear pessoas que fazem a diferença. Será que Osmar Serraglio fará a diferença no Ministério da Justiça, que tem sob o guarda-chuvas a operação “Lava Jato” que levou Cunha para a cadeia? Pensemos de forma mais crítica. 

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