Diniz x Habib

02/12/2016 às 18:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:55

Matéria da “The Economist” sobre o Brasil cita uma declaração recente do megaempresário Abílio Diniz, de que a economia brasileira estaria saindo do buraco. Mas a revista inglesa observa que o otimismo de Diniz não encontra respaldo em outros lideres empresariais. Um deles chega a ser bem objetivo e diz que não bastam boas expectativas para a economia reagir. E que o Brasil só vai crescer de fato se atacar deficiências estruturais como o custo do dinheiro, qualificação de mão de obra, legislação trabalhista e a histórica e cruel burocracia do governo.

Sérgio Habib, um dos mais brilhantes empresários do Brasil, não concorda com Diniz. Ele trouxe a Citroën para o Brasil na década de 90, montou uma rede de concessionárias da marca e decidiu, recentemente, importar os automóveis e implantar uma fábrica da chinesa JAC. Planejou com precisão seu empreendimento mas quase foi nocauteado por Dilma Rousseff quando a presidente decidiu “proteger” a indústria nacional (em 2011) acrescentando 30 pontos fatais no IPI para a importação de marcas sem fábrica no país. Uma medida tão inesperada quanto tortuosa: o Brasil acaba de ser condenado pela OMC por este recurso que vai de encontro às normas internacionais do comércio.

Habib encolheu mas não entregou os pontos. Redimensionou seus projetos e segue em frente. E fez no mês passado uma análise bastante realista do mercado de automóveis e suas perspectivas. Na sua visão, quatro pilares determinam o comportamento do consumidor e do empresário: confiança, renda per capita, preço e taxa de juros.

1 - “Dos quatro”, diz Habib, “só o primeiro deu sinais de reversão nos últimos meses, com a troca de comando no governo federal. Dá para sentir que o mercado está um pouco mais confiante de um virada na economia”.

2 - Não vê sinal positivo nos outros três. A renda, por exemplo, está intimamente relacionada com o desemprego. Diz ele que, neste aspecto, o Brasil vai “piorar menos” pois o numero de desempregados ainda não se reduz, apenas aumenta mais lentamente. Então, por mais otimista que seja o quadro, serão necessários muitos meses até uma sensível redução do número atual que já ultrapassa 12 milhões de desempregados.

3 - Os preços dos automóveis estão subindo pressionados pela inflação e nada indica uma reversão de tendência. Habib tem razão: a gordura que as fábricas tinham no passado já foi queimada há tempos, pois, depois de dezenas de anos deitando e rolando com apenas quatro marcas, o Brasil é palco hoje de uma concorrência feroz que reduziu sensivelmente as margens, pois passou a ter número recorde de fábricas de automóveis. Com a competição entre elas e a queda do mercado, várias perdem dinheiro nesta crise, a mais profunda na história da nossa indústria. Quase ninguém acredita, mas teve fábrica que recorreu este ano à matriz para pagar a folha mensal. Aliás, é difícil descobrir quais empresas do setor realizaram remessa de lucros para suas matrizes recentemente.

4 – Juros: diz Habib que estava no mês passado na China, reunido com empresários locais. Um deles comentou ter lido uma notícia positiva do Brasil, de que o Banco Central determinara uma redução dos juros (taxa Selic). E perguntou ao Habib se os empresários brasileiros não tinham se entusiasmado com a notícia. Ele tentou então explicar aos chineses que a “redução de juros” não era tão significativa como eles imaginavam. De 0,25% em outubro e outros 0,25% em novembro. Insignificantes diante de uma taxa anual de 14%...

Mas, mesmo no setor, não há unanimidade: Carlos Zarlenga, presidente da GM Brasil, prevê um crescimento do nosso mercado de cerca de 10% a partir do segundo semestre de 2017. Será?

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