Por mais espaços plurais e menos elitização cultural

03/06/2016 às 17:42.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:44

Nesta mesma coluna, abordei certa vez como fazemos parte de um sistema que elitiza elementos culturais e seus desdobramentos. Se analisarmos a partir do nosso ponto de vista, teremos um olhar raso (eu, que tenho a oportunidade de escrever para um jornal, e você, que tem a oportunidade e o interesse em ler um jornal). Deste ponto de vista, perceberemos como é fácil ter acesso à cultura, à arte como um todo. 

No entanto, eu me pergunto: alguém da periferia que passa em frente aos nossos principais museus e galerias de arte se considera apto a integrar e visitar aqueles ambientes? Se não por programas sociais, que buscam jovens de periferia como que lhes oferecendo lufadas de civilidade, a população socialmente prejudicada dificilmente se criará em um ambiente que a motive frequentar tais lugares. 

De frente ao Palácio das Artes, a imponência. Na porta das galerias, grandes e engravatados seguranças. Frequentando os espaços, bem vestidas e “cultas” personalidades. Em outros espaços, quase sempre, a história se repete. Não só para exposições, como para apresentações de peças de teatro, apresentações de dança e outras apresentações como óperas, de música clássica, etc.

Quem vai a uma apresentação da Filarmônica na Sala Minas Gerais se assusta (ou se sente em casa, dependendo da classe social): os visitantes que ali estão trajam suas melhores roupas e rodopiam no foyer com taças de espumante e sorrisos iluminados. 

Há, vão dizer, muitas apresentações voltadas ao público dito “carente”. Concertos no parque, esporadicamente, e muitas apresentações das companhias do bairro, ou das turmas de formação dos espaços culturais de bairros fora do eixo Centro-Sul de Belo Horizonte. Pergunto-me, afinal, por que é que essas pessoas que já são marginalizadas têm que ter acesso somente à produção artística que também é marginalizada?

Voltamos aos programas sociais de museus e institutos como a Fundação Clóvis Salgado e o Circuito Cultural Praça da Liberdade, que promovem, de fato, certa inclusão ao trazer este público para dentro dos espaços. Os programas agem com uma boa intenção, mas não integram esta população a uma realidade, trazendo ela para perto da programação artística da cidade. Insisto em dizer que mais me parece uma oferta “generosa” àqueles que vão visitar como se fosse “coisa de outro mundo”.

Nós, habituados a frequentar estes lugares, sabemos bem que existe um pensamento que divide a população entre “interessados em cultura” e, bom, o resto é resto pra muita gente. Há um enorme preconceito que afirma, inclusive, que todos têm que ter acesso a estes espaços elitizados e tradicionais na cena cultural. Não é, no entanto, o que se defende aqui. 

Uma possibilidade de escolha e um cenário que não repila possíveis interessados em visitá-los é o que se discute. A criação de programas educacionais e de aproximação de populações que não têm intimidade com este circuito, é o que se propõe aqui. Programas que de fato integrem estas pessoas, que façam com que esta realidade seja uma opção (não uma premissa para serem socialmente aceitos) para estas pessoas. Programas que criem intimidade.

Espaços culturais plurais não têm que ter cafés caríssimos e ambientes cada vez mais luxuosos. Caso contrário, continuaremos por este caminho que elitiza espaços e agentes culturais ao segregar parte da população que não terá sequer a chance de se interessar por tais ambientes.

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