A injustiça com Léo Gomide

13/02/2018 às 18:18.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:20

Retórica, erística: a arte de tentar vencer uma querela sem ter razão. Muleta para a falta de conteúdo. Prática onipresente no mundo político. Podemos esperar, especialmente em ano de eleições: a desonestidade intelectual travestida de argumento nos “debates” televisivos que, quando muito, numa perspectiva minimamente racional, costumam ser propaganda involuntária para o voto nulo.

Uma das técnicas oratórias usuais para quem carece de substância e/ou perde grau considerável de controle emocional, é a agressão ao interlocutor – em detrimento da desmistificação real do mérito da contenda. Esta busca por desmerecer o indivíduo invariavelmente se alimenta, é acompanhada da leviandade. Ofensa? Não somente; ilações despidas de um pingo de embasamento. Nada surpreendente e ainda assim curioso: a crônica incapacidade humana de julgar é o principal motor para que um suposto xingamento seja muito mais alardeado do que a concreta alocução de que um profissional age com má-fé. Não há provas de que Léo Gomide injuriou Oswaldo de Oliveira – tenho convicção profunda de que não o fez, mas deixemos tudo que não pode ser comprovado de modo claramente palpável de lado, por ora. Ainda assim, num indiscutível equívoco/exagero, o clube não teve receio de ser cruel; prejudicar uma pessoa talvez decisivamente em sua profissão correndo sério risco de fazê-lo fundamentando-se numa inverdade. Benefício da dúvida, presunção de inocência? Não, a gente não vê por aqui. E o treinador, que sem a menor consistência para tal, diante de uma indagação estritamente técnica, disse que o comunicador à sua frente “sempre faz perguntinhas má intencionadas”? Isso indiscutivelmente aconteceu. Mas quase ninguém percebeu/comentou. No que tange ao que materializou-se, com evidências, no mundo exterior, Oswaldo tem motivos para pedir desculpas – e nem aludo neste instante à ameaça física; Gomide, não. 

O que é pior: mandar um bandeira que errou num lance de impedimento para a casa do “baralho”, ou melhor, do “trabalho”, ou dar margem à interpretação de que o deslize dele não foi exclusivamente técnico – e sim, fruto da “má-intenção”?  Só quem se preocupa mais com a representação, com a aparência – ou não enxerga direito, não percebe e/ou avalia corretamente –, do que com a essência, a ideia, o caráter, a verdadeira honra, pode achar menos grave a segunda opção. Uma indelicadeza genérica – lembremos, para a qual não se tem prova (e na minha visão não ocorreu) –, ou o colocar em dúvida a índole, a honestidade?  

Outra sutileza não absolvida por aí: no dia seguinte ao entrevero, no programa “Bate-Bola Debate”, da ESPN Brasil, Oswaldo foi convidado a enumerar episódios anteriores em que Gomide supostamente teria se comportado inapropriadamente – afinal, ele alegou viger, digamos, uma espécie de estado de acúmulo; o comandante só foi capaz de citar uma entrevista do ano passado – em que o jornalista o indagou a respeito da origem dos gols do Galo na partida diante do Xará Goianiense (nenhum oriundo de jogada trabalhada com bola rolando; um deles, de Fred, contando com a benção do aleatório). De novo, a pergunta fora unicamente técnica – e ótima. Se subjetivamente alguém pode, óbvio, ter opinião diferente da minha, aferindo a interrogação referida como ruim, considerá-la ofensiva, contudo, num exame justo, seria impossível; seria brigar com os fatos. Ou seja: não apenas Oswaldo  não dispunha de sustentação para reclamar de má-fé, no caso específico que desencadeou os badalados desentendimentos, como, no somatório do contato profissional entre os dois personagens em tela, não possuía razões sólidas para vitimar-se por lidar com uma conduta repetidamente questionável em suas intenções. A não ser que o jornalismo que incomoda e tira da zona de conforto – sempre com respeito, é bom que se diga – seja digno de repulsa...

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