Atlético 2017 e Cruzeiro 2018

30/01/2018 às 20:03.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:03

A expressão “profeta do acontecido” é utilizada com muito mais frequência na comunidade do futebol – imprensa, torcida... – do que em outras áreas/editorias. Normalmente, em proposições não muito profundas, qualificadas intelectualmente. De qualquer maneira, existe sim um hábito, um viés bastante populista, em boa parte da mídia, de se sentir obrigada a dar satisfação, emitir opiniões “fortes”, taxativas, com quê de redentoras, após – apenas neste estágio, e sem os devidos reconhecimentos, quando necessário, de que antes o discurso era outro – a concretização dos resultados. Aquela ideia de Schopenhauer que já mencionei aqui em outras oportunidades: não queremos porque temos motivos; encontramos motivos porque queremos...

Por outro lado, não deixa de ser curioso o fato de existirem tantas cobranças/acusações de que não se “falou antes” acerca de determinado fenômeno/desfecho justamente em um campo tão afeito ao acaso e à imprevisibilidade quanto o futebol.

Muita gente, no ano passado, colocava, desde o início da temporada, Atlético, Flamengo e Palmeiras como os principais favoritos aos grandes títulos. Em diferentes momentos deixava claro que, para mim, o Cruzeiro também integrava, em teoria, este seleto pelotão. 2018 começou com a Raposa, em geral, ocupando o lugar do Galo nas previsões feitas em âmbito nacional: ao lado do rubro-negro carioca e dos súditos da “Leila Crefisa” os celestes têm aparecido em diversas listas de melhores planteis. Este panorama pode despertar algum tipo de analogia, de comparação entre a perspectiva que o Cruzeiro possui hoje, e a que o Atlético apresentava há um ano. Em certas acepções, sim. Ok. Mas há, no fundo, diferenças substanciais – sobretudo no que compete às características dos grupos de atletas em questão...

No papel, o elenco cinco estrelas é, atualmente, mais equilibrado, consistente, competitivo do que o do rival alvinegro no ano passado. O Atlético tinha sim estrelas, ótimos talentos do meio para frente, nomes capazes de decidir. Residia uma sensação de que – entre os mais sensatos e cuidadosos, cabe dizer; não me refiro aos componentes de manadas e aos que exaltam, digamos, de qualquer jeito –, se o coletivo encaixasse, pela qualidade do material que se possuía, a coisa poderia deslanchar. Mas cabia a relativização: “pelos atributos dos indivíduos disponíveis, há chance não desprezível de o conjunto não se ajustar”. No caso do horizonte para o Cruzeiro neste ano, levando-se em conta o quesito “harmonia entre os estilos das peças”, a priori, dá para dizer que a probabilidade de equilíbrio tático é consideravelmente maior.

O número superior de jogadores que aliam técnica ao vigor físico e à capacidade para ajudar no momento defensivo, recompor, preencher espaços, é um dos principais motivos para a vigência deste quadro. Uma maior variedade no elenco entre atletas que combinam com um jogo de mais posse, controle – Henrique, Cabral, Robinho... –, e opções interessantes para acelerar, para investidas mais verticais – Arrascaeta, David, Rafinha... –, também contribui para este. Alguns dos caras que mencionei – e outros não listados – se adaptam às duas filosofias citadas, é claro.

Versatilidade, completude tática de vários elementos: eis outro ponto promissor do elenco celeste. Bruno Silva pode ser segundo volante e meia pela direita; Robinho funciona nestas funções e também como armador central; Rafinha esbanja eficiência pelos dois flancos; Sóbis é capaz de ocupar a linha de meias e de atuar como “falso 9”. E o que dizer de Romero? Competente na lateral, como primeiro volante, segundo homem e até mais adiantado, na direita. Enfim... A lista continua. Como futebol não é apenas a soma de talentos, do status de cada parte, ter um todo tão qualificado como harmonioso, com integrantes que combinam entre si, pode ser mais que um “detalhe”...

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