Diagnósticos dos nossos problemas

28/05/2016 às 19:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:38

O principal defeito tático dos times brasileiros: pouca capacidade de controlar o jogo. Isso pode passar em grau considerável pelo pouco tempo dado aos técnicos. Mas o primordial, para mim, é simplesmente a deficiência do trabalho dos comandantes. A incapacidade que eles mostram de, nos treinamentos, deixar o time com compactação e sintonia suficientes para fazer um jogo de posse e proposição com consistência, regularidade.

O próprio excesso do 4-2-3-1, sistema mais comum no futebol tupiniquim, contribui um pouco para isso. Claro que o que vou dizer está longe de ser ciência exata, que é possível fazer jogo de posse e controle neste sistema (o Grêmio talvez tenha sido o exemplo mais emblemático nesse sentido, no Brasileirão 2015, embora também explorasse a transição, os contragolpes, em grande medida), mas, em geral, o 4-2-3-1 funciona melhor para uma proposta de jogo direto, com transição, objetividade, aceleração, verticalidade, intensidade, seja apostando bastante nos contra-ataques (o mais comum) ou não. Para piorar, não dá para dizer que muitos times utilizam aqui esse sistema e contemplam esse estilo, essa filosofia de intensidade e/ou transição, com maestria. Vários treinadores, inclusive, caem numa espécie de contradição ao defenderem, ao se colocarem como adeptos de um jogo que valoriza a posse, o controle e, na prática, escolherem sistemas, jogadores, escalações que pouco condizem com isso, com esse pensamento (Deivid, em 2016, foi exemplo desse tipo).

Em termos técnicos e de estratégia, assim como aconteceu em 2015, o início do Brasileiro 2016 tem sido desanimador...

Associados a essas questões colocadas nos últimos itens, alguns problemas graves e gerais: muitos times que exageram no chutão, com poucas ideias, pouca capacidade de propor o jogo e sem identidade, sem proposta clara e/ou bem executada de forma geral; pouca organização, pouco controle em diversos sentidos; no futebol brasileiro, o acaso, o errante, o aleatório, hoje, parece ter mais espaço do que em outros centros (Osorio chegou a dizer algo nessa linha; neste ponto, concordo integralmente com ele).

Muito se falou que, no Brasileirão 2015, foi extremamente comum o time que tinha menos posse ganhar o jogo. Verdade. Esse fato passou, bastante, pelo que coloquei nos itens anteriores. Afinal, poucos times tinham mais posse com qualidade, com consciência, em função de uma filosofia, com consistência, controle. Devemos destacar que o fato em análise se materializou, em larga medida, simplesmente porque, num cenário em que nenhum dos dois times contemplava esse estilo de valorizar a posse, obrigatoriamente, um deles, ainda que não tivesse essa veia, teria de ter mais posse do que o outro. Não vejo, como foi colocado por muitos jornalistas, portanto, que o fato de o time com menos posse vencer indicava “vitória de uma filosofia”. Ora... Raramente alguém estava tentando ter filosofia de posse; quando queria, o fazia, invariavelmente, de forma atabalhoada; e em muitos casos, o que se via, era a ausência de qualquer filosofia – ou uma aplicação mal feita, pouco treinada, pouco consistente, pouco organizada da filosofia “transição, aceleração, jogo vertical”.

Na linha do item anterior: muitos times jogavam mais em transição e acelerando do que em posse; ainda assim, vi poucas equipes contemplando esse estilo mais vertical com o mínimo de organização, convicção, regularidade, consistência. Poucos casos minimamente similares ao que vimos no Leicester esse ano (time pequeno e muito bem treinado para praticar esse tipo de jogo); exemplos ainda mais escassos de equipes que adotavam esse estilo com organização e de modo letal, altamente qualificado e com boa dose de sofisticação técnica/estratégica como vimos em muitos times de Mourinho e no Borussia de Klopp (óbvio que são necessárias várias relativizações para falarmos dessas comparações; entre elas: força de investimento e tempo de trabalho para o técnico; ainda assim, acho que vale a menção).

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