Festival de bizarrices

26/03/2016 às 16:19.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:39

A atuação de David Luiz – o que está longe de ser novidade – e do sistema defensivo brasileiro em geral; a extrema condescendência de quase toda a imprensa em classificar como magnífico um primeiro tempo “ok” – no máximo, já com doses razoáveis de benevolência, “bom” (entre as exceções destaco Mauro Cezar Pereira, da ESPN, brilhante no “Linha de Passe” de sexta); a maioria das perguntas na coletiva do técnico Dunga – e, como não poderia deixar de ser, suas respostas fogem de qualquer ameaça de brilhantismo; o fato de, desde Novembro de 2012, até agora, termos literalmente jogado todo tempo no lixo no que se refere à nossa seleção, primeiro com um treinador totalmente obsoleto, e depois com outro claramente despreparado em termos intelectuais – Mano não está no que chamaria de patamar ideal para o que considero compatível com o tamanho do cargo, mas dá banho, engole, está a anos-luz da dupla de conterrâneos que o sucedeu; a gritante instabilidade emocional de boa parte dos atletas cebeefianos; a ausência de padrão tático, futebol coletivo, capacidade para controlar e se organizar sobretudo em instantes de adversidade; tudo isso, e muito mais, se enquadra no festival de bizarrices que vem cercando o escrete canarinho recentemente. Falta perspectiva. Com o comandante atual, não há luz no fim do túnel. E, por mais que “devamos respeitar todas as opiniões”, observar alguns companheiros praticando quase um contorcionismo retórico na tentativa de defender o indefensável chega a ser comovente...

Apenas alguns mililitros do oceano de bizarrices que insiste em engolir a seleção brasileira a cada dia...


Dunga segue convocando mal. Negligenciar Lucas, do PSG, das listas, é além de bizarro. Se recordarmos que o professor o preteriu por Kaká no plantel inicial, então... Faltam palavras. O ruído na comunicação com Marcelo se mostra longínquo. Independentemente deste, porém, me parece inquestionável que o lateral tem sido exagerada e equivocadamente desprestigiado pelo chefe. Tirando a parte comportamental, e o fato de que ele foi lembrado no último chamado, tendo em vista o trabalho atual como um todo, raciocínio análogo vale para Philippe Coutinho – jogou bem menos, em termos quantitativos, do que deveria, até aqui. Num caminho exatamente oposto, o burocrata, o esquecido – pensando em status no futebol do dia a dia, dos clubes, enfim, em todo o planeta com exceção dos mais recentes técnicos canarinhos – Luiz Gustavo, segue acima do bem e do mal.


Todos os deslizes arrolados me parecem um tanto incontestáveis. Bem nítidos. Apesar disso, pelo grau de imperícia que denotam, são pouco falados pela mídia numa cobertura que, em geral, definha. Ainda tratando apenas de convocação e escalação, muitos outros existem. Talvez pelo menos um pouquinho mais discutíveis. O que dizer do caso Thiago Silva? Para mim, exemplo clássico de como no Brasil a boleiragem, um lado um tanto intempestivo, irracional, tosco, simplório, quase supersticioso, em determinada acepção, muitas vezes ganha forma enquanto fenômeno social e acaba interferindo e/ou meramente refletido nas decisões dos personagens donos do poder de tomá-las – e não há qualquer desculpa no sentido de aliviar infimamente em função de possível pressão de parte da imprensa e do povo; o treinador precisa ser pragmático, objetivo, especialista.


Poderia listar mais deliberações infelizes no campo eleição do grupo/equipe. Mas paro por aqui. E se a seleção se arrasta também coletivamente, enquanto conceito – inexistente –, por que o foco na escolha das peças? Simples: porque se já não creio tanto na capacidade de Dunga para formar elenco/time apropriadamente, entrego os pontos de vez quanto à aptidão dele para construir um conjunto afinado, na acepção da palavra, minimamente sofisticado taticamente...

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