Galo e Seleção

28/03/2018 às 16:59.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:04

Elias sempre foi visto, majoritariamente, como um “segundo volante que sai para o jogo”. Durante a passagem de Roger pelo Atlético, este atleta, nas vezes em que atuou mais adiantado fez, quase sempre, o lado direito da linha de armadores – dentro de um 4-2-3-1 no qual eram escalados, além dele, dois marcadores de mais pegada pelo centro. Desde então, para muita gente, existem apenas duas possibilidades táticas quando tratamos de Elias: ele seria o segundo homem do meio, ou executaria a mesma função “dos tempos de Roger”, se fosse o caso de operar mais solto. Ledo engano; na verdade, o cenário ideal para Elias, individualmente, aquele em que teria maior probabilidade de render seu melhor, não é um destes dois imaginados...

Pensemos no labor exercitado e no quadro vivido por Paulinho na seleção com Casemiro e Renato Augusto ao seu redor pelo centro – ou mesmo o panorama encontrado por ele ontem (Fernandinho na vaga de Renato Augusto). Neste ambiente, Paulinho não é nem o segundo volante, nem atua pelo lado. Tampouco funciona como um armador claramente adiantado, à frente dos volantes o tempo todo; é um híbrido de marcador e meia; às vezes vindo de trás, às vezes se dando ao luxo de ficar mais à frente. Importante também dizer que, na própria estrutura mencionada, Paulinho tem o apoio, a segurança de mais um volante além do cão de guarda do meio – Casemiro na seleção, Adílson no Galo. Assim, ainda que permaneça com certa incumbência de preencher o centro quando o time perde a posse, e possa surgir como elemento surpresa, de repente – por vir de trás –, entrando na área de modo fulminante, na fase ofensiva, não carrega a preocupação de ser “O” segundo marcador, o único sustentáculo central fora o tradicional “camisa 5”. E deixemos claro: óbvio que Renato Augusto não é volante de origem; mas na Seleção, nos seus instantes mais recentes como titular, e já há um bom tempo, vinha clara e prioritariamente sendo uma espécie de cobertura para os avanços de Paulinho, ficando, em geral, de maneira evidente, mais recuado do que este último.

Com Tite, o Brasil joga no 4-1-4-1/4-3-3. O Atlético, nos últimos anos e no começo da gestão Thiago Larghi, escolheu habitualmente o 4-2-3-1. O atual comandante alvinegro, contudo, tem testado formações mais similares à da Seleção tupiniquim. Diante do América, por exemplo, Cazares se posicionou, durante boa parte do jogo, quase que ao lado de Elias, mais recuado do que o usual, como uma espécie de terceiro homem do meio-campo – e não como um armador cristalinamente descolado dos volantes, veementemente adiantado. Com esta combinação, o Galo mostrava-se muitas vezes num 4-3-3/4-1-4-1. A paisagem desfrutada por Elias era mais similar à usufruída por Paulinho na Seleção do que normalmente o é no Atlético, mas com duas diferenças básicas: as características de Cazares, menos marcador e menos tático do que Fernandinho e Renato Augusto, e o fato de o equatoriano em diversos instantes ter ficado mais solto no momento defensivo (o time se fechava com duas linhas de quatro e Cazares não integrava a segunda, permanecendo mais adiantado e livre do combate direto, por trás de Ricardo Oliveira).

No segundo tempo, quando Blanco entrou na vaga de Luan, e Cazares passou a jogar aberto pela esquerda, mais adiantado e isento das ordens de preencher o centro nos períodos em que sua equipe estivesse sem a bola (embora passasse a precisar recompor para ajudar Fábio Santos pelo flanco canhoto), aí sim, Elias pôde desfilar em campo com a desenvoltura que para ele seria o paraíso: nem segundo volante, nem “peça de beirada”, nem armador “isolado”; um terceiro homem de meio, centralizado, mas com dois alicerces (Blanco e Adílson) para ter de se preocupar um pouco menos com a destruição. Se o horizonte mais promissor para Elias brilhar individualmente é o mais adequado ao time, coletivamente, é papo para outra hora...

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