Homofobia no futebol

04/04/2017 às 18:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:00

O número de ações realizadas por clubes de futebol contra injustiças e preconceitos diversos, e em prol de causas humanistas têm crescido bastante nos últimos anos. Só em 2017, o Cruzeiro brilhou ao combater a violência e a desigualdade sofridas pelas mulheres em bonita iniciativa apresentada em jogo diante do Murici; o Atlético marcou um golaço ao convidar crianças do Instituto Mano Down para entrar em campo com seus ídolos na partida frente ao Tupi.

Se pensarmos nas empreitadas contra o racismo, os exemplos são inúmeros. FIFA e UEFA, por exemplo, organizaram em tempos recentes diversos empreendimentos na tentativa de dirimir esta estupidez. Tudo muito legal e louvável – embora existam complexidades, relativizações a serem feitas no que tange a motes como determinados “clássicos da paz”, a certas “campanhas de conscientização”, e ao que daria para chamar de meras propagandas e/ou bandeiras para o “bem da marca”, de alguma entidade (legaizinhas, porém pouco efetivas e às vezes quase platitudes criadas somente para “pegar bem”, e não genuína e profundamente preocupadas em atacar os problemas).

Obviamente sem desmerecer todas as já elogiadas ideias citadas – e muitas outras análogas –, sempre que materializadas coisas dessa natureza penso o seguinte: “quando um grande clube de futebol, sem medo, sem hesitar, vai criar algo consistente para condenar claramente a homofobia? Quando alguém terá a coragem de enfrentar a – burra – repercussão negativa dentro de boa parte de sua torcida – todas têm alto contingente de obtusos nessa seara –, e as piadinhas ridículas dos rivais – já imagino a fala ‘dar combustível para o inimigo’...?” Sejamos sinceros: entre todas as infinitas idiotices que ainda inundam o mundo, entre todos os modos de descriminação existentes, no esporte bretão, o mais enraizado, o mais comum, e o que existe com as facetas mais variadas, complexas, é a homofobia – vigente em patamares epidêmicos, assustadoramente altos, e frequentemente envolta em sutilezas que podem até tornar a ignorância menos nítida, menos facilmente detectável, mas que nem por isso necessariamente a deixam menor e menos danosa.

Muito se fala dos apelidos pejorativos entre torcidas rivais. “Franga”, “Maria”, “Bambi”, “Galinha”... Frequentes também são os debates em torno do hábito, bem comum no Brasil, de gritar “bicha” quando o goleiro adversário vai bater o tiro de meta. Me parece ainda mais instigante enquanto tópico a ser esmiuçado, contudo, os vícios, as manifestações entranhadas no cotidiano e notadas em conversas pessoais, espalhadas até nas redes sociais, amostras estas em muitos sentidos mais sutis, e ainda assim talvez mais representativas como reflexos da estreiteza intelectual humana.

Até porque, no que se refere aos xingamentos mais notórios e badalados ali enunciados, há relativizações a serem feitas, espécies de atenuantes para alguns casos específicos – às vezes o discurso não significa que no fundo exista exatamente o sentimento que dele poder-se-ia deduzir, o que não necessariamente isenta de críticas a sua adoção. Ademais, no comportamento às vezes menos escancarado, comum é enxergar a vigência de um valor tão arraigado quanto completamente equivocado, na linha do automaticamente encarar o homossexualismo como algo ruim e dos que até não disparam os preconceitos abertamente, mas não querem sequer correr o risco de serem longínqua e indiretamente “associados” à homossexualidade, por exemplo, com receio do que podem achar dele nessa seara e/ou vendo sua torcida “taxada” de tal maneira por defender uma postura justa e inteligente nesse campo. Aliás, quanto a esta última versão do preconceito nesta coluna abordado, um adendo: muitos representantes de uma comumente obtusa imprensa esportiva nela recaem, inclusive nas omissões e no travamento de certas defesas, bem mais contidas do que quando se fala de outros preconceitos. Medinho que esparge o retrógrado, insegurança e muito mais...

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