Não é opinião: Messi é muito melhor do que Cristiano Ronaldo

27/12/2017 às 15:28.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:28

Schopenhauer dizia, com razão, que o ser humano tem mais dificuldades de julgar, de avaliar, do que de raciocinar. Muito se fala hoje que vivemos a era da intolerância. De fato, reina a falta de respeito pela opinião alheia, a hostilidade perante o discurso do próximo, com o qual não se concorda. Minha dúvida é somente se, também nesta seara, não idealizamos o passado; não o pintamos com cores que, no fundo, ele não tinha.

Numa espécie de paradoxo bastante curioso, constantemente me deparo com o diagnóstico: em várias áreas, não apenas no futebol, frequentemente o senso comum, a maioria das pessoas é taxativa, intransigente onde não deve, e excessivamente relativista também equivocadamente. Neste cenário, coexistem a mencionada intolerância e um movimento de certa forma oposto, no qual se paga de bonzinho, de aberto à visão do outro quando, na realidade, esta última não configura uma “opinião plausível, apenas diferente da nossa”, e sim uma leitura simplesmente equivocada de fatos; um erro intelectual.

O debate – epidêmico nos últimos anos – acerca de quem seria melhor, Messi ou Cristiano Ronaldo, costuma banhar-se num oceano de platitudes, de proposições espalhadas, proferidas e aderidas por quem sequer flerta com uma quantidade minimamente aceitável de estudo/observação que seria condizente, suficiente para se ajuizar apropriadamente. Pode-se preferir qualquer um, por determinados prismas; você pode gostar mais, sei lá, até do André Gomes, do Carvajal. Mas Messi É melhor do que Cristiano Ronaldo. Ponto. Não se trata de opinião. E antes de qualquer coisa, ressaltemos: CR7 é maravilhoso, excelente, um dos grandes de todos os tempos. Aqui, não nos referimos a nenhum demérito dele.

Um dos “argumentos” utilizados por muitos que defendem a suposta superioridade do português é: ele seria “mais completo”; recorre-se a um tipo de “soma”. “Cristiano cabeceia, chuta melhor com as duas pernas e...”. Além de alguns dos itens normalmente arrolados nestas fundamentações não serem verdadeiros, de várias desmistificações neste campo possíveis e que neste texto não estarão presentes – assunto para outra hora –, diria o seguinte: a qualidade individual no futebol não é medida por uma somatória de atributos, não é construída de um jeito matemático, tão “quadrado”, “robótico”, procedimental assim.

O caminho correto para a apreciação certeira no quesito neste texto esmiuçado passa pelo obrigatório exame de muitíssimos jogos completos; pela posse de uma percepção, de um feeling, de uma capacidade de entendimento da modalidade infimamente profundo. Mais do que “somar” fundamentos, portanto, é necessário saber notar/avaliar qual atleta mostra-se superior na arte de ter impacto no jogo, de decidir, de acertar em quase todas suas intervenções.

É indispensável, neste processo, que o juiz carregue a aptidão para observar, em larga escala, as soluções que cada jogador consegue para seus lances, como costuma sair/lidar com as circunstâncias que a marcação, a partida colocam para ele; o que usualmente é produzido, acontece, é a consequência de cada ação em que este personagem é acossado, enfrenta as condições naturais de oposição dentro dos duelos pontuais que advêm do embate maior; as respostas dele para cada momento em que é acionado. Misturando todos estes elementos num caldeirão – junto a outros que trataremos em novas análises –, e munindo-se do bom senso para apreciar o que há de resultar do material, conclui-se que Messi é, clara e disparadamente, o melhor do mundo. 

No Brasil há uma espécie de travamento, de código velado que impede a constatação: Messi conversa com Pelé. É, na pior das hipóteses, o segundo de todos os tempos. Talvez seja o primeiro. Talvez...

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