O pior do Brasileirão

15/05/2016 às 09:41.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:26

A primeira divisão tupiniquim começou neste sábado e... Sim: um candidato ao título, como o Santos, pode, por uma canetada mal dada, pela inépcia dos nossos dirigentes – inclusive dos coniventes mandatários do clube da Baixada –, lutar contra o rebaixamento; ou, talvez, destinar-se ao limbo, à sempre esquecível zona da pasmaceira.

Não há nada mais surreal do que o calendário do futebol brasileiro. Num ano que reúne a Copa América caça-níquel, e os jogos do Rio – esportivamente grandiosos, mas pouco afeitos ao mundo do futebol, invariavelmente quase um estranho no ninho Olímpico –, o ridículo ganha ares insuperáveis de caricato. No esporte bretão brazuca, repleto de problemas gravíssimos – dirigentes corruptos e mal preparados, jogos fracos, estádios vazios... –, o cronograma de partidas está, sem dúvida, entre as principais dificuldades. Perde, provavelmente, apenas para o despreparo e a falta de noção da cartolagem – e com essa realidade se entrelaça, já que são esses Mandachuvas “lunáticos”, disparatados, que o organizam. 

Quando se fala em calendário, diz-se que sua principal questão é o acúmulo de jogos. Não é verdade. Por mais que este também seja um ponto importante, um erro até grave, na escala de loucuras do nosso cronograma esta situação esmorece, se perde em insignificância em meio a tantas coisas piores. Sabe aquela história do assassino em série que é preso por “gato” de TV por assinatura? É por aí. Nosso calendário aniquila tanto o espetáculo, a justiça, que o alto número de partidas vira contravenção em meio a crimes hediondos.

Comecemos a enumeração dos erros. Um futebol que não para sua atividade local durante as datas FIFA, só pode estar de brincadeira. O clube contrata, paga horrores, faz ginástica orçamentária, se mata para ter um bom time... Eis que, de repente, suas estrelas são convocadas e... E? Simplesmente ficam fora de jogos importantíssimos, que “apenas” decidirão o destino da equipe na temporada – para a qual, lembremos, o investimento “emprestado” à Seleção foi contratado ou mantido como medida central, como maior esperança e estratégia para se obter sucesso justamente nesta mesma temporada. É mais do que bizarro.

Para piorar, nosso calendário e nossa organização permitem que clubes percam também peças-chave para seleções de base. Isso mesmo. Atletas já consolidados no profissional, já conhecidos no futebol mundial, digamos, por vias muito mais sólidas do que as categorias dos jovens, frequentadores de vitrines muito mais reconhecidas do que os torneios de “promessas”, já estabelecidos no mercado, deixam partidas com peso semelhante ao de finais de campeonato em suas agremiações para disputar AMISTOSOS de “juvenis”. É para desistir. 

Se todas essas insanidades já são conhecidas, há algum tempo, do grande público, recentemente uma nova mazela do nosso calendário – utilizo aqui o termo em sentido amplo - ganhou a imprensa e a boca do povo. Clubes eliminados de uma competição local recebem, como prêmio, passagem para um torneio continental. Agora conta a do português?! Mas não, é no Brasil que isso acontece mesmo. O principal defeito nesta regra é a evidente falta de lógica, sentido, meritocracia. Uma confusão de valores, onde não se sabe o que é importante, o que deve ser feito. Ademais, tal regulamento dá margem, sim, a especulações em torno de supostas “entregadas”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por