Sinal da nossa limitação?

25/07/2017 às 19:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:44

Todo mundo sabe: destruir é mais fácil que construir. Inclusive no futebol. A quase dinastia do Barcelona de Guardiola, e da seleção espanhola entre 2008 e 2012, fez da valorização da posse um paradigma. A passagem do treinador catalão pelo Bayern, e o fato de este último ter sido, em diversos sentidos, inspiração, base para a Alemanha campeã mundial – que também gostava de propor –, deram novos argumentos para os defensores deste modelo. Ao mesmo tempo, enquanto comandante do Real Madrid, José Mourinho sentiu-se obrigado, em diferentes instantes, a procurar um antídoto para o futebol de iniciativa do seu maior rival. O estilo claramente reativo não deu sempre certo nos clássicos espanhóis, mas passou a pautar os debates como a antítese do desejo de controlar as ações com a bola no pé.

 Não há “jeito correto” de jogar futebol. Privilegiando a defesa ou o ataque, os contragolpes ou a busca pela imposição, o importante é aplicar com eficiência e competência a estratégia escolhida. Dito isso, devo lembrar que, nos moldes já explanados neste espaço em diversos textos, considero que a ideia de controlar, se impor, tendo o domínio da posse, em geral, quando bem empregada, é a que mais aproxima um time da vitória. O caráter errante, aleatório de uma partida de futebol não há de ser negligenciado nestas análises. E o arquétipo que, na minha visão, mais afasta uma equipe das rédeas deste fantasma, é aquele exemplificado com maestria sem igual pelo Barça de Busquets, Xavi, Iniesta; Pedro, Villa e Messi como “falso 9”. O melhor futebol coletivo dos últimos 25 anos, no mínimo. Nessa linha: um dos esquadrões na história em que o técnico mais teve interferência positiva no que se via em campo; um dos escretes com maior participação do intelecto, do programado no seu sucesso. Uma “máquina” numa acepção que vai muito além daquela que funciona meramente, e independentemente de qualquer coisa, da forma, como sinônimo de “time muito bom, forte”.      

 Se na sua trajetória mágica pelo clube do coração Guardiola elevou a tática no futebol a outro patamar com uma capacidade ímpar de vencer dentro do estilo a ele associado acima, posso dizer que não me recordo, no futebol brasileiro, de ver o modelo de “posse, controle, imposição” ser tão maltratado como nesta temporada. A frequência com que assistimos times de maior orçamento e nível técnico definhando sem o menor repertório, sem qualquer sofisticação, sem a mínima aptidão para encontrar soluções programadas, ensaiadas, para fugir da retranca, da “negação do jogo” de rivais menos favorecidos, é digna de pena, de desânimo. São tantas partidas, tanto números, fenômenos que comprovam isso a cada rodada, que seria preciso fazer uma coluna à parte somente para despejá-los nesta página. Um gostinho? Rodadas com quantidade recorde de triunfos de visitantes; predomínio absurdo, sem precedentes, de equipes com menos posse; goleiros insistentemente eleitos melhores em campo – equipes que atacam muito até por serem “chamadas” pelo oponente “pouco ambicioso”, que finalizam bastante, mas que, em função da inépcia criativa/de infiltração, não constroem oportunidades verdadeiramente claras com frequência e acabam consagrando arqueiros inimigos; quantidade abissal de cotejos em que conjuntos diversos se rendem ao chuveirinho atingindo números de cruzamentos aleatórios – e equivocados – alarmantes; enfim... Tudo isso – e muito mais – faz parte de um mesmo contexto.    

 Falta de tempo para treinar e instabilidade dos técnicos nos cargos são elementos que colaboram para a construção deste quadro. Mas a pobreza intelectual da esmagadora maioria dos treinadores, e a falta de craques na plenitude claramente consistentes, confiáveis – que seriam fundamentais para quebrar linhas, fazer um jogo de construção sólido –, para mim, são nossas principais mazelas.

  

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