A relação que o ministro não vê

06/01/2017 às 20:26.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:20

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse que as 33 mortes em um presídio de Roraima não teria, “em princípio”, relação com as 56 mortes em outras unidade em Manaus, durante rebelião entre domingo e segunda-feira. Segundo ele, o mais recente capítulo do massacre de presos do Norte do país seria causado por rixas internas dentro de uma mesma facção criminosa. 

Caro ministro, se o senhor e seus assessores não sabem existem relatórios, nem tão recentes assim, que demonstram os problemas das prisões do Norte do país, especialistas e entidades de direitos humanos já delimitaram há muito tempo esse quadro, que acabou se agravando há alguns meses. Talvez Moraes tenha se esquecido que as mortes nos últimos dias foram precedidas de vários outras, sendo impossível dissociá-las. 

A relação não está somente nos autores do crime em si. Todas essas ocorrências são consequências de uma série de equívocos de política de segurança pública e prisional. Fala-se em facções atuando dentro de presídios como se fosse normal esses grupos terem controle de espaços nas penitenciárias. 

Quem são esses grupos? Com que atuam? Como conseguem esse poder todo? Como se financiam? Certamente, alguém na Polícia Federal, sob responsabilidade da pasta gerenciada pelo distinto ministro, deve ter um histórico com todos esses detalhes. 

Porém, mostramos hoje para o leitor – e também gestores públicos desavisados – que por trás de toda essa disputa está o tráfico de drogas, que movimenta mais de R$ 15,5 bilhões por ano no país, colocando o Brasil entre as principais rotas do narcotráfico no mundo. 

Como o problema é nacional, acredita-se que políticas nacionais para o combate a essas facções já tivessem sido implantadas. Mas uma das medidas anunciadas pelo governo foi “a maior integração entre as polícias dos Estados”. Enquanto isso, ordens de execuções de presos rivais dadas em São Paulo são cumpridas em Manaus.

Sim, as prisões estão superlotadas e sem estrutura. Mas enquanto o país não enfrentar a segurança pública de uma maneira mais ampla, pode colocar os presos em um hotel cinco estrelas que não adiantará. O que assusta é que o Ministro da Justiça parecer não compreender direito a situação. 

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