Benevolência coloca em risco conquistas

27/01/2017 às 21:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:36

Já faz muito tempo que as ruas e calçadas de Belo Horizonte passaram por uma espécie de reintegração de posse. Quem é mais jovem ou que não morava na capital mineira no final dos anos 90 pode achar o termo até um exagero. Mas os moradores mais antigos vão se lembrar de como era difícil se locomover no centro da cidade naqueles tempos, mesmo a população sendo um pouco menos populosa. A retirada dos camelôs do centro foi uma das marcas do governo do prefeito Célio de Castro, sucedido por Fernando Pimentel, que deu continuidade à política, deslocando esses vendedores para os chamados, desde então, “shoppings populares”. 

Mas como muita coisa no Brasil, principalmente as que envolvem fiscalização, com o passar do tempo, pode-se ter a impressão de que o problema está controlado, a vigilância acaba relaxando. Basta algo novo para que tudo volte ao que era antes. No caso específico, a economia é o estopim da vez. 

O desemprego e a crise econômica podem servir de explicação para que essas pessoas, sem opção, busquem a sobrevivência de algum modo. Mas não pode ser desculpa para que o poder público seja benevolente e coloque em risco uma das grandes conquistas que a cidade teve. Afinal, regras e regulação urbana fazem parte de toda a metrópole e precisam ser cumpridas. Caso contrário, a cidade vira um caos. 

Primeiramente, a prefeitura deveria retomar os espaços dos shoppings populares a esse pessoal. Os locais, criados para abrigar os camelôs, hoje são dominados pelos produtos importados, principalmente pelos chineses. Poucos dos antigos ambulantes ainda resistem. 

Em seguida, os vendedores poderiam passar por qualificação – que poderia ser oferecida até por entidades de lojistas – e seriam transferidos para esses locais ao mesmo tempo que a fiscalização recebesse um reforço para evitar que novas bancas sejam montadas nas ruas.

É realmente uma pena que muita gente parta para uma atividade informal para conseguir um complemento de renda. Mas as normas que organizam uma cidade – ou tentam colocar o mínimo de ordem – não podem variar de acordo com o cenário econômico. 

O poder local é que deve estar atento a esses sinais e não esperar o problema se agigantar para agir. 

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