Todo o episódio envolvendo a permanência de Renan Calheiros na presidência do Senado mostra como o Brasil está completamente sem rumo, sem projeto, sem representatividade, sem conexão com a população. Em um momento em que temos projetos, reformas e uma crise para resolver, foi armado um circo absolutamente desnecessário para decidir uma norma que teria pouco efeito prático.
Primeiramente, a decisão monocrática do ministro Marco Aurélio Melo absolutamente inoportuna. Não pelo mérito, mas não se toma uma atitude dessa magnitude, principalmente contra o presidente do Congresso, de forma isolada. A repercussão, a resistência do atingido e a cooperação dos colegas com o mesmo eram previsíveis.
Horas depois, a presidente da Corte, a mineira Carmen Lúcia, marcou a sessão para o julgamento do pedido pelos outros ministros. Ora, se havia espaço na agenda para essa decisão não seria melhor colocá-la para votação diretamente pelo colegiado? Não havia urgência na decisão. Uma conversa com os colegas para definição da pauta resolveria a questão.
Já a atitude de Renan Calheiros em desrespeitar uma decisão judicial é mais uma afronta de um político poderoso à Justiça. O fato reforça o sentimento na população que nem todos são iguais perante a lei. As ações da operação Lava Jato vêm mudando um pouco essa percepção, mas o presidente do Senado, citado e investigado pela força-tarefa, parece ainda estar um patamar acima do que a Polícia Federal e o Judiciário podem alcançar.
A terceira atitude lamentável nessa sequência está em mais uma decisão judicial questionável. Ora, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi afastado do cargo por ser réu no STF, e estar na linha sucessória da Presidência. Posteriormente, foi cassado pelos colegas por ter mentido em relação a contas no exterior.
Renan Calheiros também é réu, também foi impedido de assumir a Presidência, mas, sem muita explicação, não perdeu o cargo. São duas interpretações diferentes para a mesma situação. Ou então, ser réu e estar na linha sucessória não foi a questão a ser julgada.
Tudo isso, há apenas 18 dias do fim do mandato de Renan, que não deve se reeleger. O afastamento teria pouquíssimo efeito prático. Ou seja, tudo isso não passou de uma imensa perda de tempo.