Bruno ainda tem contas a acertar

13/03/2017 às 20:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:43

O caso envolvendo o goleiro Bruno Fernandes é daqueles que ficará na história do país em vários aspectos: judicial, social e esportivo. O novo desdobramento, agora, chega ao mercado publicitário, com várias marcas deixando de patrocinar o Boa Esporte, time de Varginha, por ter contratado o goleiro, condenado a 22 anos de prisão pelo sequestro e morte de Eliza Samúdio, em 2010. 

As empresas têm todo o direito de escolher quais associações ou pessoas vão estampar a marca deles e avaliar se aquelas pessoas estão de acordo com os valores defendidos por aquele negócio e o impacto no público-alvo. É do jogo publicitário. Nota-se, ainda, que a retirada dos patrocínios ocorreu somente após a repercussão da contratação na sociedade. 

Por outro lado, o goleiro Bruno também tem o direito de procurar o próprio caminho enquanto está livre, apoiado em uma decisão da Suprema Corte do país. O atleta afirma ter mudado a personalidade após o cárcere de quase 7 anos. Se isso é verdade, só o tempo dirá. 

Mas o fato de ser uma pessoa conhecida em todo o país não tirou de Bruno a possibilidade de sofrer grande resistência na tentativa de reinserção na sociedade. Milhares de homens e mulheres, anônimos e egressos do sistema prisional, vivem isso todos os dias. Ele tem o “carimbo” de condenado na testa e, em tempos em que tudo é armazenado em ilimitadas bibliotecas virtuais, será difícil ser esquecido, ainda mais para um jogador de futebol. 

Ao Boa Esporte talvez tenha faltado uma pesquisa de mercado sobre o impacto da contratação do goleiro nos apoiadores, torcedores e moradores da cidade onde o time sedia os jogos. Agora, vai sofrer as consequências. 

Bruno também não deve ter se dado conta de que a condenação neste país, principalmente de um negro e vindo de família carente, vai muito além do tempo de cadeia. Fica marcada para sempre. Ainda mais no caso dele, em que temos a figura de um condenado por homicídio em liberdade. 

Mas a punição do goleiro, determinada por júri popular, será bem maior. As portas vão se fechar, e será difícil ele voltar a exercer a profissão. Bruno descobre agora que a liberdade é muito mais que um <CF26>habeas corpus </CF>do STF. A reação ao retorno ao futebol mostra que ele ainda tem contas para acertar com a sociedade. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por