Cerol não é mais uma brincadeira inocente

23/06/2017 às 20:30.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:14

Soltar papagaio é uma das atividades mais tradicionais e mais divertidas na cultura brasileira. Há décadas, esse objeto feito artesanalmente e que viaja pelos céus com o auxílio do vento provoca fascínio em milhões. Mas, assim como outras brincadeiras tradicionais, a atividade está se tornando cada vez mais perigosa. Pior, se tornou uma prática que pode ser mortal. 

Há 20 ou 30 anos o cerol existia, no entanto, os acidentes eram muito raros. Primeiro, porque tínhamos muito mais locais descampados para empinar os papagaios. Segundo, havia muito menos carros e motos nas ruas. E, por último, as misturas de cola, água e vidro eram caseiras e muito menos potentes. Chegavam a provocar, no máximo, cortes superficiais nas mãos de quem manuseava. Hoje, a chamada linha chilena, já adquirida pronta, corta até fio de alta tensão. 

A proibição do cerol, decretada há 15 anos, é uma lei absolutamente ignorada em todas as cidades de Minas Gerais. Tudo bem que a Polícia Militar mal consegue dar conta de criminosos, e o Corpo de Bombeiros, outro responsável pela fiscalização, está presente em poucos municípios do estado. Ou seja, não há como fazer uma lei ser cumprida se não tem quem cobre o respeito a ela, principalmente uma norma em que a maior parte dos infratores são menores de idade. 

As linhas cortantes precisam acabar e isso se consegue não somente colocando uma norma no papel. É preciso esforço maior das autoridades. De todas. É preciso ir aos locais em que os jovens estão, conversar com eles e conscientizá-los dos riscos do uso das substâncias para as vidas dos outros cidadãos. 

Não podemos aceitar mais famílias sendo destroçadas por mortes absolutamente estúpidas e evitáveis, como a de uma criança de cinco anos, recentemente, em Ibirité. E muitas outras vidas foram afetadas nos últimos anos por pessoas que tiveram sequelas em acidentes. 

Se for preciso, papagaio deveria ser proibido até que tenhamos condições de manter o mínimo de ordem na fiscalização e na venda de linhas. Seria uma medida extrema, mas poderia evitar mais mortes e atingiria o mercado de linhas cortantes. 
O que não podemos é ficar parados, olhando para o céu admirando com os olhos do passado aquilo que hoje já não é mais uma brincadeira inocente. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por