Conexão com o mundo do crime

17/04/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:09

Dez mil reais por um celular dentro da cadeia é muito dinheiro? De jeito algum, se imaginarmos que quem desembolsa esse valor para ter o aparelho em mãos, mesmo estando atrás das grades, poderá usá-lo para ordenar todo tipo de crime do lado de fora da cadeia: tráfico, extorsão, atentados, assassinatos. Multiplique esse estrago por 11 mil. Pois foi exatamente o número de telefones recolhidos nas unidades prisionais em Minas nos últimos cinco anos, como o Hoje em Dia mostra nesta edição. 

É claro que estamos falando de celulares tirados de circulação pelas autoridades. Mas o fato de terem sido apreendidos pressupõe a entrada deles na cadeia e a utilização pelos bandidos por um período de tempo impossível de ser mensurado. Sem falar que para cada aparelho encontrado por agentes carcerários certamente há outros que seguem na clandestinidade.

Há um consenso, inclusive entre especialistas em segurança pública, de que a maioria das ligações que parte das cadeias é para a família. Difícil ter certeza, haja vista que se parece impossível controlar a entrada dos telefones no xadrez, mais complicado ainda deve ser assegurar os assuntos tratados nas chamadas. Ainda assim, é no mínimo de se estranhar que tanta gente arrisque ser presa por até um ano por tentar entrar com um telefone escondido, muitas vezes dentro do próprio corpo, na mesma cadeia onde pode visitar todo fim de semana o parente que presta contas à Justiça. 

Na tentativa de evitar que mais aparelhos cheguem às celas, o governo de Minas faz um mapeamento dos presídios que prioritariamente devem receber bloqueadores de sinal e scanner corporal, capaz de “delatar” quem está camuflando um telefone em si mesmo. Contar com esses recursos, porém, demanda dinheiro, e ainda que uma verba já esteja prometida pela União é difícil acreditar que colocará um ponto final na história. 

No interior, aparelhos são arremessados aos detentos por cima de muros de cadeias instaladas em imóveis que mais parecem casas. Uma “estratégia” que soa infantil, mas dá resultado. Mais do que lançar mão da tecnologia, é chegada a hora de fazer valer a lei, punindo tanto quem entrega quanto quem facilita a entrada dos celulares nas unidades prisionais. Talvez assim possamos falar um dia em presos sem contato regular com o mundo aqui fora. 

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