Crescimento artificial

25/08/2016 às 20:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:33

Um dos setores que melhor ilustra o ciclo mais recente de crescimento da economia do Brasil é o automotivo. Nunca se produziu tanto carro, moto ou veículos pesados na história do país do que no início desse século. 

Boa parte desse sucesso se deu por meio de incentivos fiscais concedidos pelo governo do ex-presidente Lula, por razões históricas, às fabricantes. O objetivo era garantir a todo o custo os empregos da indústria automobilística, mesmo que a medida significasse uma queda importante do volume dos repasses de recursos às prefeituras – já que os impostos reduzidos compõem o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) – e o aumento do número de carros nas ruas, complicando ainda mais o trânsito nas grandes cidades. 

Os alertas de que esse não era o melhor caminho foram dados por especialistas. Mas, como várias vezes ocorreu na história do país, o que era para ser pontual durou muito mais do que o previsto inicialmente e do que o considerado seguro para a economia. 

Em vez de aproveitar os momentos de euforia para criar estratégias e garantir uma certa independência econômica, as empresas do setor foram se tornando cada vez mais reféns do incentivo do governo federal. Expandiram produção, lançaram modelos, abriram novos turnos e contrataram mais trabalhadores em cima de regras temporárias, que em algum momento iriam perder a validade. O cenário de crescimento era montado sobre bases artificiais. 

Hoje, o setor automobilístico do Estado está praticamente parado. Somente em Minas, a queda no número de emplacamentos, desde 2013, foi de 40%. O estrago está feito. 

Perdem as montadoras em si, com queda do faturamento, perdem os empregados, que têm os empregos ameaçados, e perdem as cidades que possuem fabricantes e empresas subsidiárias, por causa da queda na arrecadação.

Ao contrário de outras áreas, uma possível retomada das vendas de veículos nos moldes da década passada é bem mais demorada. O povo tende, primeiro, a colocar contas em dia, sair do sufoco, para depois pensar em supérfluos, como é o caso do carro zero km. 

Portanto, o horizonte para a área automobilística, e de quem depende dela, não parece tão otimista. O setor que viveu o período dos sonhos agora toma um choque de realidade. 
 

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