Governo pode criar mais resistência à reforma

29/03/2017 às 20:18.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:56

O governo de Michel Temer está mesmo empenhado em reforma a Previdência Social, fazendo uma espécie de marco à sua gestão. Depois de tirar os servidores estaduais e municipais do alcance das alterações das regras, agora o governo dá um novo recuo no projeto original enviado à Câmara dos Deputados, em Brasília. A forma como se calcula o valor do benefício fica como está, levando-se em conta apenas os maiores salários de contribuição. 

Esses sinais provam que Michel Temer fez o que é de certa forma comum entre os administradores quando editam projetos que precisam passar pelo Pode Legislativo: enviou um texto bastante restritivo para ir “aliviando” durante a negociação, ou para satisfazer a opinião pública ou para usar como troca para organizações e oposicionistas. 

O presidente pode querer manter um ar de negociador e sinalizar que, assim como o governo, todos os lados também têm que fazer algum tipo de concessão. No entanto, sobre o ponto mais polêmico, que é o aumento do tempo e contribuição, ainda não há sinais de alterações nas ideias originais. 

Não há como saber se a tática do governo poderá dar certo. Acelerar a votação pode criar ainda mais resistência ao texto dentro dos corredores do Congresso e dar motivos para mobilizações maiores contra a reforma.

O governo pode até ter maioria nas Casas Legislativas para fazer com que o resultado das votações seja favorável – se tivesse certeza disso, já teria votado. Mas sem um diálogo com a população e o mínimo de apoio nas ruas, o tiro poderá sair pela culatra. Imagine o próximo presidente revogar tudo o que foi feito? A tal marca da gestão terá ido pro espaço. 

As necessárias mudanças na Previdência Social são importantes, mas talvez menos urgentes em relação a toda a situação econômica que o país vive neste momento. Os efeitos das alterações, se forem confirmadas, viriam a longo prazo. Mas o sofrimento de várias partes da população com o desemprego e a queda de renda precisa ser contornado imediatamente. 

A reforma da Previdência do jeito que está tem todo roteiro de um fracasso nos planos do governo, o que sepultaria praticamente essa gestão e paralisaria, novamente, o país. Talvez seja melhor aguardar um pouco mais e trabalhar bem o caminho para a votação.

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