Um governo democrático deve ser, acima de tudo, transparente. Os gestores devem fornecer à população informações precisas sobre o que está ocorrendo com os diversos setores do país. Estamos em uma crise econômica sem precedentes justamente porque diversas atitudes foram tomadas – ou deixaram de ser – enquanto os brasileiros eram enganados com informações falsas sobre situação financeira da nação. Deu no que deu.
A interrupção do financiamento habitacional da Caixa na modalidade mais popular, atrás do Minha Casa Minha Vida, é, no mínimo, um erro gigantesco de planejamento.
E não adianta o governo insistir em descartar a relação entre a liberação dos R$ 30 bilhões das contas inativas do FGTS para a interrupção de contratos em que os beneficiados precisam ter, como pré-requisito, serem cotistas do FGTS. Se são contas diferentes, por que uma não foi usada para sustentar a parte que estava em déficit? A relação é inevitável.
É pouco plausível também acreditar que essa modalidade de financiamento tenha acabado por falta de recursos antes do meio do ano e com a construção civil em crise por falta de unidades vendidas. Ou seja, a demanda de financiamentos é extremamente baixa em relação há quatro ou cinco anos, e tudo seguiu sem paradas até hoje. Algo não se encaixa.
O impacto dessa atitude pode ser desastroso. Esses imóveis possuem valor considerável de mercado e cada negociação dessa com a Caixa significa alguns trabalhadores com emprego garantido para novos investimentos. Agora, pelo contrário, dezenas de milhares de imóveis deverão encalhar; sem dinheiro girando, não haverá novos investimentos; e sem novos aportes, não há como o empresário manter o mesmo número de trabalhadores nas empresas e mais gente vai para a rua.
A suspensão dos planos é uma atitude claramente em direção contrária ao que o próprio governo prega, que é o discurso de “o pior já passou”. Não! O pior ainda estar por vir para muita gente que terá que adiar o sonho da casa própria e, principalmente, para quem não terá casa nenhuma para construir.
O governo, que controla a Caixa, deve uma explicação mais lógica sobre essa interrupção. As justificativas até agora foram vazias e superficiais, o que combina bem com quem está no comando.