Interesses privados tomam lugar do povo

30/05/2017 às 19:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:47

Crises como essa que o país está vivendo têm um lado bom para quem quer aprender com os erros (mesmo não tendo cometido eles, como é o caso) para que as próximas gerações não os repitam. E, analisando de uma forma ampla, todas as negociatas, repasses, malas e bolsas de dinheiro reveladas ou investigadas até agora possuem o mesmo objetivo de financiar projetos de poder de pessoas e de grupos específicos, principalmente no setor público. Estamos tendo a noção da completa descaracterização do que seria um cargo político. 
O poder do político é dado pelo povo e é para ele que a pessoa que está lá deve governar. Não para si. Mas grande parte da classe política brasileira usa o cargo para benefício próprio, muitas vezes para enriquecimento ilícito. 
Se não bastasse o uso do poder concedido pelo povo, há indícios fortes do uso do dinheiro da população, já que, segundo as investigações, empresas se apoiavam em contratos firmados com a União e governos para arrecadar boa parte dos recursos que seriam repassados a políticos e partidos como forma de propina, na defesa de interesses daquela empresa. Ao que tudo indica, o BNDES seria a principal fonte desses recursos, por meio de empréstimos cujos contratos são considerados sigilosos. Ou seja, o povo não pode saber o que se faz com o dinheiro dele. 
Como as gravações da PF mostraram, parlamentares e até o presidente da República não se reúnem com grandes empresários para discutir política tributária, o desemprego ou as altas taxas de exportação, e, sim, para negociar empréstimos para pagamento de advogados de defesa e conversar sobre juízes comprados. Assessor parlamentar também não mais ajuda o político na confecção de projetos, no encontro com as bases ou na agenda de comissões, mas busca mala de dinheiro de propina. É irmão, primo, tios envolvidos; os interesses privados tomam conta de todo  processo que deveria ser público, ou melhor, para o público. 
Esse jeito de fazer política, só pensando em si, não acabará com a prisão ou o fim da carreira pública dos envolvidos na Lava Jato. Muitos não citados nessa investigação também usam da mesma prática e ainda estão lá. Isso só vai acabar quando o cidadão de bem tomar esses lugares, se apresentando como opção ou mesmo votando melhor. Enquanto não melhorarmos as nossas escolhas, mesmo se houver a condenação de todos, sempre haverá alguém que tomará o lugar de quem saiu, renovando o ciclo de desrespeito ao nosso país. 

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