Há quase 70 anos, o Brasil deixou praticamente de lado o que poderia ser um de seus principais diferenciais competitivos no mundo, na atualidade: o transporte ferroviário.
Com o ímpeto desenvolvimentista da década de 50, a opção por construir mais e mais rodovias - o que, na época, serviu para atrair a indústria automobilística ao país -, passou a predominar e relegou a segundo plano o modal de circulação de cargas e pessoas mais adequado a um território de dimensões continentais como o nosso.
Hoje, pagamos o preço pela alternativa escolhida. Repletas de caminhões, que transportam 58% da produção nacional, e não cuidadas com a atenção devida, as estradas matam cada vez mais. Sem contar outros sérios inconvenientes, como as constantes interrupções em seu fluxo, seja por acidentes, como mostrou a edição de ontem do Hoje em Dia, ou por protestos e paralisações, como a recente greve dos caminhoneiros.
Já as ferrovias seguem sem prestígio. Pode-se dizer que o Brasil virou o oposto da Rússia, outra nação de área gigantesca (17,1 milhões de quilômetros quadrados) e que, nos últimos dias, passou a ser centro das atenções mundiais, em razão da Copa do Mundo.
Comparações simples mostram a discrepância: se por aqui temos 29 mil quilômetros de ferrovias, sendo que somente 7 mil (24%) estão em plena operação, os russos contam com 87 mil quilômetros de linhas em pleno funcionamento.
Se transportamos 25% da produção nacional por esse tipo de via, o país que é sede do Mundial de futebol deste ano leva nada menos que 81% de suas riquezas pelas estradas de ferro. Em Minas, são apenas 4 mil quilômetros de ferrovias, metade do que havia, em passado não tão distante.
Contudo, enquanto brasileiros e mineiros são obrigados, hoje, a contentar-se com raros trechos ferroviários para transporte passageiros, como a ferrovia Vitória-Minas, cabe sonhar: lançado no mês passado pelo governo federal, o Plano Nacional de Logística (PNL) traça metas para os modais de transporte do país, até 2025, e prevê mudanças.
A esperança é de que a reativação de linhas férreas, que poderia ser fruto de investimentos privados, dê, finalmente, a partida.