Número de fraudes deve ser bem maior

19/07/2017 às 19:14.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:39

As cotas raciais nas universidades públicas são parte de uma política necessária para buscar amenizar a exploração, a discriminação e a falta de oportunidades que marcou a história dos negros no país. Não há como negar que essa discrepância em relação aos brancos condenou gerações de milhões de famílias à pobreza. Muitas outras coisas deveriam ser feitas para que toda crueldade feita com os negros e índios fosse compensada – talvez nunca seja. 

As leis, normas, decretos, circulares não precisam apenas ser impressas e publicadas para valer na prática. Tem que haver mecanismos para que  sejam cumpridas em uma sociedade que, já deu para ver, não é muito acostumada a cumprir regras. Como acontece com praticamente todas as leis no nosso país, sempre há os aproveitadores que vivem em busca de uma brecha para tentar levar vantagem ou burlá-la. Não é diferente com a política das cotas. 

Mesmo após anos de implantação, somente agora uma das universidades federais de maior prestígio no estado monta uma comissão para verificar se a pessoa que se autodenomina negra disse a verdade no momento da inscrição para o vestibular. E os primeiros números revelados pela comissão da Universidade Federal de Uberlândia mostram o tamanho do problema. Já são 140 casos de fraude identificados e que, naturalmente, devem levar à expulsão dos alunos. Essa quantidade de pessoas diz respeito apenas aos que entraram neste ano na instituição. Imaginem quantos outros casos já ocorreram em outras universidades que ainda não possuem essa verificação. 

Esse, caros leitores, é o retrato de uma sociedade que tem um número grande de pessoas que só sabem viver enganando e obtendo vantagens indevidas. Isso explica a quantidade e o tamanho de esquemas de corrupção revelados em toda nossa história.

As fraudes nunca deixarão de ocorrer, mas o número só cairá a patamares aceitáveis quando essas pessoas passarem a ser punidas exemplarmente, não só por prestar informações falsas a uma instituição pública federal, mas, principalmente, por impedir, com essa ação, a aprovação de uma pessoa que realmente atende às prerrogativas para a vaga. 

A certeza da impunidade ou a previsão de uma pena branda facilitam que as fraudes sejam, em qualquer nível, corriqueiras no país. 

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